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Os erros inconscientes com os cães jovens

by Jesus Barroso de la Iglesia

Quando temos a árdua tarefa de treinar um cão jovem, todos, absolutamente todos, vamos cometer alguns erros. Claro que a base do conhecimento, unida com a experiência, vão minimizar muitos desses riscos, mas sobretudo tornarão esses erros conscientes. Há erros conscientes? Claro que sim. Como podemos falhar conscientemente? Estaríamos loucos. O que fazemos é dar-nos conta de que falhamos, mas não o fizemos de propósito.

Muitas pessoas não entendem o esclarecimento que acabo de fazer, pois pensam que qualquer um pode treinar um cão: “tive cães durante toda a minha vida”, “caço desde os meus oito anos”, “tenho mão para lidar com os cães”… Há uma linguagem canina que se não se explica, não a vamos entender; há uma psicologia, um estudo da conduta e umas metodologias que requerem estudo, formação e, posteriormente, experiência. Obviamente que a experiência se vai adquirindo, mas deve ser sempre acompanhada de uma base formativa, porque se for de forma contrária, vamos treinar um cão e cometeremos erros inconscientes, daqueles que nem sequer damos conta que estamos a cometer porque nos falta uma base formativa, volto a repetir.

Que erros são esses?

Não premiar corretamente: é o erro mais comum entre a maio ria das pessoas, que não percebem o que é um condicionamento através de prémios ou castigos. Acreditam que um prémio é somente dar biscoitos ou salsichas, mas não são capazes de premiar com um “muito bem” cada vez que o cão obedece ou que a sua conduta é desejável: “Sim recompenso, levo sempre biscoitos no colete”, e esta última frase abarca um segundo erro muito comum… Para caçar vamos já com os “trabalhos de casa” feitos. Não devemos levar prémios no colete amigos; os prémios devem estar condicionados antes de irmos caçar. Trabalhamos a chamada com comida + “muito bem”, e dessa forma condicionamos uma associação do “muito bem” = salsicha ou biscoito, e no futuro podemos deixar a comida em casa e premiar só com “muito bem”.

E o que é que acontece se não premiarmos corretamente? Pode mos enganar o cão, ou seja, fazemos o bem para o mal, poderemos traduzir assim. Precisamos de muito mais repetições ou não associará correta mente aquilo que pretendemos, mas sim qualquer outra coisa. Por exemplo, se o chamamos e não premiamos com a voz, somente com a comida quando chega; quando deixarmos de utilizar os prémios de comida, o cão deixará de obedecer, é a lei da conduta animal: “a ausência
de prémio provoca a extinção de uma resposta”. Premiando prejudicamos a paragem: certamente já leram milhares de vezes coisas que escrevi sobre isto, pois é o prémio inconsciente por excelência. Se disparamos sobre uma peça que o cão não parou, estaremos a premiar essa conduta, a conduta de não parar, espantar, carregar, e há outra lei animal que diz: “qualquer conduta premiada tende a repetir-se”. Portanto, o cão voltará a espantar e não a parar, pois foi aquilo que o ensinamos. Obviamente que vai depender de cada cão, alguns precisam de repetir várias vezes para associar, mas outros precisarão apenas de uma única vez, asseguro-vos, porque já o vi. Carregar, sem parar sobre a peça e o caçador matá-la, quer dizer que
irá precisar de muito trabalho para recuperar a paragem nesse exemplar.

Artigo e fotos publicadas na edição nº 277 da Caça & Cães de Caça (dezembro 2020)

Não castigar corretamente

Também podemos falhar de forma inconsciente ao castigar. Se desconhecemos as sensibilidades físicas ou auditivas do aluno, vamos falhar inconsciente mente, pois passaremos o limite ou não conseguiremos e se isto acontecer, o castigo é inútil ou, pior ainda, pode estragar de vez um cão e então, acabou-se. A grande maioria dos problemas no cobro deriva de um castigo inconsciente. Não percebem que quando perseguem um cachorro que está orgulhoso com a sua codorniz, o seu troféu, para ele é uma luta e vocês são competidores. E se a roubarem, passam a ser o rival, e se forçam para conseguir tirá-la da boca e até o magoam, estarão a castigá-lo, e o cachorro pode entender como que não querem que ele cobre e vos entregue a peça.
Porque é que vai perceber isso e não que me deve trazer a peça? Porque não construíram o exercício, não souberam premiar corretamente, não condicionaram o prémio com a conduta do trazer, e ainda por cima castigaram; não testaram as sensibilidades físicas do cachorro; ou seja, falta-vos formação base. Menciono muito as sensibilidades, quer físicas, quer auditivas, devido à sua importância. Não conheço ninguém que tenha criado o medo aos tiros no seu cão de forma consciente; todos cometem esse erro inconscientemente. A maioria das vezes dão-se conta depois, quando lhe explicam, quando dizem que o cérebro do cão é associativo, que devemos procurar sempre uma associação positiva, com qualquer coisa que façamos, para não arriscar.

APONTAMENTO FINAL

Este é o grande segredo, amigos, não arriscar. Quando nascessem, os cães deviam trazer estas duas palavras pintadas no lombo, e deviam lá permanecer pelo menos durante o seu primeiro ano de vida, porque há caçadores que cegam com a caça, como bons predadores que são, mas não percebem que antes de caçar há que educar; e caçando não se educa. O nosso tio, avô, pai… não nos advertiu para isto, quando deram o primeiro tiro, quando eram crianças? Eles atiraram primeiro à peça de
caça e pediram-nos desculpa por fazê-lo e não avisarem. O problema é que os cães não entendem as desculpas. Um cão não entende quando falamos com ele, e por isso não podemos advertir, mas sim criar uma associação positiva do tiro.

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