Durante décadas o controlo sobre o número de capturas foi inexistente e esse argumento é hoje utilizado por diferentes estruturas e organizações que questionam a atividade cinegética, principalmente sobre espécies migradoras, como é caso da galinhola. Hoje deve estar bem claro o impacto da caça sobre tais espécies e por isso mesmos os caçadores organizam-se no sentido de procurarem recolher o maior número de dados e com a ajuda de investigadores da comunidade científica analisá-los e trabalhar para uma caça sustentável.
Em vários países da Europa decorrem estudos promovidos pelas associações de caçadores de galinholas, inclusive em Portugal. Contudo, há países com estruturas associativas mais desenvolvidas que têm em ação projetos de acompanhamento
das jornadas de caça sobre a galinhola há mais tempo e com maior participação do coletivo de praticantes. Fruto desse empenho e do uso de tecnologia – como os nossos telefones móveis –, esses estudos têm chegado a conclusões surpreendentes e que nos podem dar indicações para o futuro da caça à galinhola. Do último relatório do “Proyecto Becada” (Projeto Galinhola) desenvolvido em Espanha nos últimos 30 anos, encontramos dados muito interessantes e que partilhamos neste artigo.
PRINCIPAIS RESULTADOS GLOBAIS
O mais importante de um estudo com estas características – obtenção de dados sobre as jornadas de caça, avistamentos, capturas, etc. – é a sua repetibilidade ao longo de uma série temporal, que permite monitorizar flutuações da população de uma espécie ao longo do tempo. É certo que depende muito da qualidade dos dados aportados, da seriedade e rigor com que os colaboradores os aportam, daí que simplificar o processo e facilitar o trabalho dos mesmos seja crucial. Por este motivo, além da consistência na participação dos colaboradores fidelizados ano após ano, a padronização de uma aplicação informática foi essencial, dado que se descartaram apreciações subjetivas que anteriormente ficavam refletidas nas fichas em
papel, o que se repercutia ainda nos erros quando se introduziam esses dados. A abrangência de uma maior extensão territorial do estudo também veio multiplicar a informação obtida, mas é curioso que o estudo revelou que os dados sobre a caça à galinhola se têm mantido constantes ao longo dos anos.
ÍNDICES E RESULTADOS
Para o estudo e monitorização das populações de galinholas são considerados dois índices fundamentais:
- Índice Cinegético de Abundância de Avistamentos (ICA1);
- Índice Cinegético de Abundância de Capturas (ICA2).
O ICA1 não é mais do que o número de galinholas avistadas por unidade de tempo padronizada – 3,5 horas de caça – e alcançou um valor de 1,21 para a totalidade de anos do projeto (30), ou seja, são avistadas 1,21 galinholas por cada 3,5 horas de caça. O ICA2 é o número de galinholas caçadas pela mesma unidade de tempo (3,5 horas) e o valor médio do estudo é de 0,47, ou seja, foram caçadas 0,47 galinholas por cada 3,5 horas de caça. Passando esta informação para uma linguagem mais simples, o estudo concluiu que um caçador de galinholas necessita de pouco menos de três horas para ver uma galinhola e caça um exemplar a cada sete horas de caça. Ambos os índices mantiveram uma tendência estável ao longo dos anos, com alguns altos e baixos pontuais coincidentes com os melhores e piores anos de criação da espécie nos seus quartéis de nidificação.
OUTRO DADO IMPORTANTE
O estudo permitiu ainda obter outro dado importante, que é a relação de idades das galinholas caçadas, a percentagem de
exemplares jovens e adultos, o que permite avaliar se se está a caçar um “excedente” da população derivado de um bom ano de criação – ou pelo menos normal –, ou pelo contrário, se está a ser exercida uma pressão negativa ao se caçar uma maioria de exemplares reprodutores. Este tipo de estudos que aliam os caçadores à ciência são fundamentais para realizar uma caça
sustentável, sempre preservando o futuro das espécies e a própria atividade cinegética.