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Tiros a longa distância: Caçador ou “sniper”?

by Redação

Todos gostamos de fazer um “tiro bonito”, que esteja associado a uma maior dificuldade do que aquela que habitualmente ocorre em determinado processo de caça. E esses tiros, mais ou menos vezes, sempre fizeram parte do currículo de um caçador. Mas não é isso que abordamos neste artigo; aqui tratamos da mais recente moda de procurar – quase como exigência – um tiro a longa distância. E por longa distância estamos a referir-nos a disparos a 300 metros ou mais.

N a caça pelo processo de aproximação disparamos à nossa presa claramente identificada e que, idealmente, se encontra numa posição estática, tendo assim a oportunidade de a cobrar com um único disparo. O caçador também estará, idealmente, numa posição de tiro estável e com perfeito controlo sobre o equipamento. Pelo menos cumprirá esta última premissa – controlo de tiro –, pois nem sempre é possível obter a posição de tiro perfeita. Colocação da arma Vamos começar pela técnica de tiro e deixaremos para o final a definição de longa distância e os limites que a mesma deve implicar. Regra geral há que disparar com o couce da coronha perpendicular ao solo. Frequentemente, em posição deitado, o caçador procura uma postura mais cómoda e tem tendência em inclinar a arma de modo a facilitar o alinhamento do olho diretor com o aparelho de pontaria, sendo este último ótico – hoje em dia, praticamente uma exigência na caça de aproximação. Contudo, a inclinação da arma, nos disparos a longa distância, influenciará o ponto de impacto. Não nos podemos esquecer que a mira telescópica está num plano diferente do cano, que determinará a trajetória do projétil. Ao afinarmos o conjunto, o que estamos a fazer é a determinar a distância em que a linha de mira interseta a trajetória do projétil e essa afinação, feita na carreira de tiro, realiza-se com a arma na posição que descrevemos no início; com o couce da coronha perpendicular ao solo. Gatilho A colocação do dedo sobre a cauda do gatilho é importante, pois é a ligação que temos com um conjunto de vários elementos de precisão que é o mecanismo de disparo. Apenas a “falangeta” (falange distal) deve tomar contacto com a cauda (lâmina) do gatilho, devido à maior sensibilidade que nos dá esta parte do dedo. Contudo, se contarmos com um gatilho de peso muito reduzido (200 gramas, por exemplo) esse contacto realizar-se-á ao nível da primeira articulação. Num gatilho de dois tempos, a pressão inicial tem como objetivo superar o primeiro tempo (folga) e só depois se exerce força para vencer o percurso total. Cada vez é mais utilizado nas carabinas de repetição de fabricantes europeus o gatilho direto, sem folga, que obviamente obriga a um controlo mais disciplinado. Há quem goste mais assim, mas há que nunca consiga fazer bons tiros com este tipo de mecanismos. Uma última referência aos mecanismos de gatilho “de cabelo”, sendo o mais comum aquele que se arma empurrando a cauda do gatilho para a frente (com a arma na posição de fogo). O objetivo é reduzir consideravelmente o peso para libertar o disparo e, no caso dos gatilhos de dois tempos, eliminar a folga.

AFINAR O CONJUNTO A ZERO

Diz-se que uma carabina está afinada quando colocamos os disparos no centro do alvo (local onde colocamos o retículo) a uma determinada distância, muito frequentemente os 100 metros são o padrão. Normalmente esses disparos são efetuados numa posição de tiro estável e com a arma apoiada em bancada/cavalete de tiro. O ideal será disparar sempre da mesma forma e da seguinte maneira: 1) Devemos estar sentados, com a carabina montada numa bancada de tiro/cavalete em cima de uma mesa de tiro, de estrutura sólida e estável. 2) Efetuado o primeiro disparo (depois de uma passagem a colimador ou com a técnica de “bore sight”, de modo a efetuar uma primeira afinação “grosseira”), vamos fixar bem a arma de modo a permitir rodar as torretas de afinação sem movimentar a arma; apontando para o centro do alvo, vamos deslocar o retículo (recorrendo às torretas) até ao primeiro impacto. 3) Realizamos mais três impactos e se necessário voltar a efetuar a correção do ponto 2) ou então aplicando cliques em função do que pretendemos deslocar no retículo, desde o centro destes últimos três impactos. 4) Podemos concluir com mais três disparos, de modo a avaliar o agrupamento. 5) Uma vez efetuadas as correções necessárias, podemos levar as escalas das torretas a “zero” (sem dar cliques) e instalar as suas tampas. Tudo isto pode ser feito numa instalação de tiro que permita colocar alvos a 50 metros (primeira afinação) e 100 metros, para finalizar e avaliar agrupamento das munições. Se houver possibilidade, disparar a 300 metros será o ideal para confirmar as correções a efetuar partindo do “zero” a 100 metros. E se a perspetiva de tiro é disparar a 300 ou mais metros, então também não será má ideia passar os “zero” dos 100 metros para uma distância maior. Uma última recomendação; o último disparo deverá ser efetuado com o cano frio, pois é assim que efetuaremos o nosso disparo mais importante durante uma caçada, o primeiro!

O disparo

Toda a arte do tiro se resume à qualidade do disparo, não sendo todo o resto mais do que um conjunto de preparativos, importantes sem dúvida, que culminam numa revisão de detalhes que nos vão facilitar esta ação. Vamos de seguida abordar os três processos de disparo mais comuns.

• O disparo consciente. Ao início o atirador (ou caçador) aprende a apertar o gatilho de forma controlada. Perante a imagem das miras (o retículo, no caso da mira telescópica) alinhada com o alvo, o cérebro dá ordem Afinar o conjunto a “zero” Diz-se que uma carabina está afinada quando colocamos os disparos no centro do alvo (local onde colocamos o retículo) a uma determinada distância, muito frequentemente os 100 metros são o padrão. Normalmente esses disparos são efetuados numa posição de tiro estável e com a arma apoiada em bancada/cavalete de tiro. O ideal será disparar sempre da mesma forma e da seguinte maneira: 1) Devemos estar sentados, com a carabina montada numa bancada de tiro/cavalete em cima de uma mesa de tiro, de estrutura sólida e estável. 2) Efetuado o primeiro disparo (depois de uma passagem a colimador ou com a técnica de “bore sight”, de modo a efetuar uma primeira afinação “grosseira”), vamos fixar bem a arma de modo a permitir rodar as torretas de afinação sem movimentar a arma; apontando para o centro do alvo, vamos deslocar o retículo (recorrendo às torretas) até ao primeiro impacto. 3) Realizamos mais três impactos e se necessário voltar a efetuar a correção do ponto 2) ou então aplicando cliques em função do que pretendemos deslocar o retículo, desde o centro destes últimos três impactos. 4) Podemos concluir com mais três disparos, de modo a avaliar o agrupamento. 5) Uma vez efetuadas as correções necessárias, podemos levar as escalas das torretas a “zero” (sem dar cliques) e instalar as suas tampas. Tudo isto pode ser feito numa instalação de tiro que permita colocar alvos a 50 metros (primeira afinação) e 100 metros, para finalizar e avaliar agrupamento das munições. Se houver possibilidade, disparar a 300 metros será o ideal para confirmar as correções a efetuar partindo do “zero” a 100 metros. E se a perspectiva de tiro é disparar a 300 ou mais metros, então também não será má ideia passar os “zero” dos 100 metros para uma distância maior. Uma última recomendação; o último disparo deverá ser efetuado com o cano frio, pois é assim que efetuaremos o nosso disparo mais importante durante uma caçada, o primeiro! de disparar mas ao início a ação do dedo poderá traduzir-se num tiro precipitado que colocará o impacto longe do objetivo desejado. O atirador mais experiente assume o processo de forma reflexiva, ou seja, quando vê a imagem perfeita do retículo parado sobre a zona eleita para o impacto, o dedo vence de forma automática a leve resistência restante, saindo o disparo no momento oportuno.

O disparo consciente por impulsos. É uma variante do anterior processo, que se apresenta quando os músculos do dedo que atuam sobre o gatilho não podem exercer uma pressão contínua, o que pode acontecer como resultado de condições atmosféricas extremas (muito frio) ou em situações de stress (demasiado nervosismo). Em ambos os casos existe perda de sensibilidade ou falta de contração, sendo difícil detetar se a pressão exercida pelo dedo vai aumentando durante o processo de disparo. O método a utilizar, para remediar a situação, consiste em reduzir ligeiramente a pressão, aumentando-a de novo um pouco acima da realizada anteriormente, repetindo esta ação várias vezes até o disparo se realizar.

Surpreendido pelo disparo. Consiste em aumentar gradualmente a pressão sobre o gatilho sem perder a concentração sobre o retículo e mantendo-o na zona alvo, até que o disparo surpreende o caçador enquanto este ainda se mantém concentrado no processo de pontaria. O acompanhamento Habitue-se a manter a posição de tiro, sem variar a tensão muscular, após realizar o disparo. Pode definir-se como uma tentativa de acompanhar a trajetória do projétil através dos órgãos de mira (a mira telescópica, neste caso) até ao alvo. Em muitas ocasiões os tiros errados e que temos dificuldade em explicar (“A mira estava mesmo lá em cima!”) devem-se a um relaxamento muscular prematuro, queremos com isto dizer, nos instantes prévios ao disparo; está tudo perfeito, o tiro está prestes a sair e… o relaxamento acontece antes deste se realizar. Por isso o melhor é manter toda a concentração e processo mesmo alguns instantes após o disparo sair e alcançar o alvo.

Treino e tiro a seco

Disparando uma carabina de calibre magnum é mais difícil detetar as reações secundárias que decorrem durante o processo de disparo, pelo que o “tiro a seco” poderá ser um bom treino. Disparando sem munição, e sem o recuo e estrondo, torna-se mais fácil observar as possíveis falhas; gatilhadas, contrações indesejadas, etc. O treino com carabina de ar comprimido é um complemento válido para o ensino do processo de disparo, já que a escassa velocidade inicial do projétil obriga a efetuar um processo de disparo sem falhas e, particularmente, um bom “acompanhamento” do tiro (aquilo que acabámos de ver). Por outro lado, ao não existir praticamente recuo, torna mais simples detetar outras falhas.

A balística

O primeiro problema que encontra o caçador quando dispara a longa distância é saber a distância que o separa do alvo, com a maior exatidão possível, de forma a que possa ter a referência do ajuste a “zero” da sua arma. Atualmente encontramos muitas miras telescópicas equipadas com elementos que permitem a rápida (e de forma intuitiva) correção do tiro em altura. Claro que compete ao caçador conhecer as caraterísticas do calibre e munição que dispara e assim saber perfeitamente qual a queda do projétil para determinada distância. Para isso nada melhor do que estudar as tabelas balísticas correspondentes à munição utilizada.

Correção pelo vento

A gravidade e o vento são as forças mais significativas que atuam sobre o projétil. Enquanto a gravidade apenas representa um único problema ao caçador – conhecer a distância ao alvo –, o vento não representa uma força constante e é difícil apreciar os seus efeitos sobre o projétil. O tiro a longa distância em condições de vento significativo representam um enorme desafio para o caçador se não forem introduzidas as correções necessárias. Avaliar a intensidade do vento é também só por si um desafio. Por exemplo, a reverberação ótica (fenómeno físico em que uma superfície reflete parte dos raios de luz) deforma as imagens e pode ser um excelente indicador da direção e intensidade do vento. O desvio de uma bala pelo vento lateral não é apenas horizontal, já que a rotação do projétil gera um desvio em altura. Um vento de direção 3 horas (método do relógio) desvia a bala para a esquerda e para cima. Um vento das 9 horas, desvia a bala para a direita e para baixo.

Correção de um tiro em ângulo pronunciado

Para disparar a longa distância em situações de posição de tiro em ângulo pronunciado, seja positivo ou negativo, há que efetuar a respetiva correção seguindo a máxima: “A disparar para cima ou para baixo, apontar mais baixo”. Quer atire a uma peça de caça de cima para baixo u de baixo para cima, deverá apontar por baixo do ponto “zero” ou então aplicar as correções balísticas correspondentes de modo a alcançar o ponto de impacto desejado. Esta regra deve ser aplicada nos tiros longos com ângulos superiores a 10 graus (como já dissemos, negativos ou positivos). A maioria dos telémetros modernos e binóculos com telémetro integrado possuem programas de cálculo balístico para as correções devido aos ângulos de tiro, indicando a distância corrigida (em metros) ou até o número de cliques que deverá dar na sua mira telescópica, isto depois de introduzidos os dados da munição e mira telescópica. Tiro sobre um alvo em movimento Será uma situação a evitar na caça de aproximação e mais ainda nos tiros a longa distância. Qualquer peça em movimento é muito mais difícil de abater com um disparo já que há que realizar cálculos; a distância (com menos tempo para o fazer), a velocidade da peça de caça, a direção que vai tomar e, por fim, o desconto de tiro a aplicar. Tudo isto com muita rapidez. Basicamente existem duas técnicas para o tiro a um alvo em movimento:

• A de espera, que consiste em manter a arma estática e realizar o disparo quando a peça nos surja à distância que consideramos correta através do retículo da mira.

• O acompanhamento, que consiste em seguir o alvo movimentando a arma, mantendo sempre o retículo no local que consideramos adequado para realizar um impacto na zona alvo. A primeira é recomendável para o tiro a longa distância e a segunda para distâncias mais curtas. Relativamente à execução do disparo, o tiro em movimento em determinadas circunstâncias induz à “gatilhada” e por isso deve ser evitado. Outras considerações Aspetos como a humidade e temperatura do ar, pressão atmosférica e altitude, têm influência no tiro a longa distância, mas menos do que os restantes aspetos que tratamos aqui. De todas as formas, o caçador que queira aprimorar os seus disparos pode começar a considerar também estes outros aspetos e aprender a “controlá-los”.

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