Parte da segurança nos atos de caça está nas nossas mãos e é disso que vamos hoje falar.
O resultado da “nossa” montaria depende também em parte do nosso comportamento no posto. Claro que todos os “atores” da caçada contribuem para o êxito ou fracasso, no entanto, a forma como encaramos a nossa participação também faz parte
da equação e tem maior importância do que possa parecer. Em primeiro lugar devemos perceber como se desenrolará a montaria, de onde entram os cães, onde estão os outros postos e um conjunto de movimentações que fazem parte deste
processo de caça. Só assim estaremos a caçar. A nossa forma de estar no posto pode inclusive ter influência na entrada das reses. Um javali ou um veado em fuga do acosso dos cães podem escolher outro caminho se sentirem a presença de um monteiro mais “descuidado” no posto, o que não acontecerá perante uma postura mais discreta. A atenção do monteiro aos
ruídos do campo também lhe permitirá aproveitar o lance de outra forma, antecipando a entrada de uma rês. Uma pedra
a rolar, um ramo a partir, o ruído de movimento dentro das presença de caça. Por outro lado, impõe‑se no posto alguma disciplina, não só no que diz respeito a fazer, ou não fazer, ruído. Tudo começa com os primeiros cinco ou dez minutos após a chegada ao posto. A limpeza do solo no local onde vamos ficar, eliminar alguma rama que impeça movimentarmo‑nos sem ruído e, claro, preparar tudo o que vamos precisar durante toda a montaria de modo a não criar movimentos desnecessários; o banco, uma garrafa de água, as balas, uma bucha… definitivamente, ter tudo pronto com o máximo silêncio.
Posição de espera
Deveremos manter a arma nas mãos pelo maior tempo possível, pois se um javali se apresenta ao aceiro quando temos a espingarda encostada… dificilmente teremos tempo para aproveitar a oportunidade. É cansativo ter a arma sempre nos braços, é verdade… Um bom exercício que deve ser feito ao chegar ao posto é rever os possíveis locais de tiro e encontrar as veredas – passagens naturais – das reses. A partir daí podemos intuir os percursos de fuga e eleger os locais mais favoráveis
para um disparo. Estar num posto a bom vento também é importante, mas aí não mandamos nós. Sabemos que no fecho de
uma mancha há um conjunto de postos que vão ficar a mau vento. Mas isso não quer dizer que não nos vá entrar qualquer rês. Apenas que temos de estar mais atentos e ter mais cautela para não denunciar a nossa presença.
Segurança, acima de tudo
A nossa atitude no posto deve estar guiada acima de tudo e em qualquer momento pela segurança. Não nos cansaremos de
afirmar que nenhuma rês, por maior que seja o seu troféu, vale uma ação que implique risco. Nos últimos anos temos visto uma maior utilização das peças de vestuário e equipamento de cores bem visíveis, habitualmente o laranja “fluo”, uma cor
bem visível ao olho humano e que não tem o mesmo efeito com os cervídeos ou javalis, que vêm essa cor de forma diferente. O que as reses identificam bem é o movimento, portanto é isso que devemos evitar. Equipados de cor laranja asseguramos que vamos ser vistos pelos outros postos e essa é a primeira regra para garantir a nossa segurança. A segunda é que se os
nossos vizinhos usam também essa cor, vamos ficar a saber a sua localização. Se não estiverem visíveis pela orografia do terreno ou vegetação, vamos assinalar e identificar a sua presença no início da montaria, em conjunto com o postor que
coloca os postos. Uma outra regra diz respeito ao ângulo de tiro, que nunca deverá ser inferior a 30‑45 graus relativamente
aos postos contíguos. E claro, nunca passaremos a arma durante o “correr da mão” na direção de um posto, mesmo que a mesma esteja em segurança.
E para terminar
Nunca vamos disparar para o interior da mancha numa direção em que não vejamos o local de enterrar a bala. Mesmo que não tenhamos ninguém na linha de tiro. Se o terreno é pedregoso, então temos que ter cautela com possíveis ricochetes. Claro que o tiro a reses no viso será totalmente interdito em qualquer tipo de situação. Um disparo em segurança implica visualizar o local de impacto da bala, que deverá ser a terra e não o corpo de uma rês, uma árvore ou vegetação. Se tivermos a sorte de atirar, vamos esperar pelo fim para ir marcar a rês. O ideal será esperar pelo postor para o fazer, mostrando também o local que assim será mais fácil de referenciar aos que recolhem as reses. Por último, cumpra os princípios éticos da
montaria, deixando cumprir as reses e não cortando a entrada aos postos vizinhos.