4ª geração
Depois do sucesso da MK3, poucos acreditariam que a Browning fosse mexer na BAR, até porque a mais recente versão daquela que é a carabina semiautomática de maior sucesso da história está… podemos dizer, perfeita! Mas todos sabemos que o mercado está mais competitivo do que nunca e a Browning decidiu acrescentar algo mais à BAR nesta 4ª geração “4X”.
Mesmo com a velha máxima de que “em equipa que ganha não se mexe”, a Browning decidiu evoluir a sua carabina semiautomática e mostrou a 4º geração da BAR. Antes de entrarmos na nova BAR, vamos relembrar o que nos trouxe a MK3 em relação à sua anterior geração (MK II).
A BAR MK3 colocou a Browning num patamar superior em relação à sua concorrência mais feroz, dotando a sua carabina semiautomática de uma melhor ergonomia, um mecanismo de gatilho que permite disparos bastante mais precisos e de um sistema de segurança muito mais… seguro. Na minha modesta opinião – e mantendo a minha isenção, posso dá-la – a BAR MK3 é a semiautomática perfeita! Talvez os responsáveis da Browning não pensem assim…
Exclusividade
A possibilidade de “individualizar” a sua arma de caça é atualmente um excelente argumento de venda, algo que verificamos em vários mercados; podermos escolher os acabamentos interiores do nosso próximo automóvel, a suspensão ou escape da tão desejada moto réplica de competição, fazem parte das opções do mercado de veículos de quatro e duas rodas de alta gama. E, sob o meu ponto de vista, é precisamente aí que a Browning pretende entrar, num segmento de mercado mais alto, onde o cliente procura “exclusividade”.
A BAR 4X permitirá um certo grau de personalização ao nível dos acabamentos das madeiras e gravuras, mas também de outros elementos que equipam de origem a carabina, como o tipo de miras metálicas, por exemplo.
Para isso a Browning desenvolveu um configurador online que permitirá aos interessados “criar” a sua BAR 4X com as diferentes opções existentes. Basicamente a escolha assenta em quatro “módulos”:
– Módulo de caixa de culatra/cano (calibre);
– Módulo de coronha e fuste;
– Módulo de miras metálicas;
– Módulo de acessórios.
Modularidade é a palavra-chave e para tornar simples a montagem ou desmontagem da coronha, por exemplo, a BAR 4X conta com um novo sistema de encaixe para este elemento. O mesmo se passa com as miras metálicas (alça e ponto de mira), desenvolvidas para facilmente se retirarem e nos permitir montar um freio-de-boca ou um moderador de ruído.
Maior ergonomia
Atualmente a ergonomia é um dos aspetos que maior atenção recebe por parte dos responsáveis de desenvolvimento das armas de caça e tiro. Claro que a fiabilidade mecânica e as prestações balísticas continuam a ser fatores decisivos (para a maioria), mas meter à cara uma arma que nos fica logo bem pode tornar a decisão de compra muito mais rápida. E a Browning sabe disso… Por isso mesmo reviu alguns detalhes implementados na BAR MK3, como o sistema de segurança de armador manual, agora com uma patilha muito mais fácil de acionar, exigindo menor esforço do polegar, o que torna o processo mais rápido e intuitivo. Este sistema de segurança atua diretamente sobre o percutor, que está desarmado (sem estar tensionado), mesmo com a munição na câmara, até ao momento em que empurramos o armador para a frente. No caso de uma queda ou impacto forte sobre a arma, não existe o risco do percutor se soltar e alcançar o fulminante, iniciando a deflagração da pólvora e o disparo inadvertido.
Conforto e eficácia
O calço de couce Inflex 2 pode ser montado com recurso a dois espaçadores (7 e 12 milímetros), que permitirá ajustar a coronha em comprimento, estando ainda disponíveis em quatro espessuras distintas: 12, 20, 25 e 32 milímetros. Na prática temos um calço de couce que pela sua forma e acabamento permite um encaixe rápido no ombro (com a parte superior com acabamento mais liso) e simultaneamente uma boa absorção da energia resultante do disparo.
Quanto à eficácia do mecanismo de repetição, não há muito a dizer, pois trata-se do fiável e mais do que comprovado sistema de gases que evoluído nas últimas versões da BAR mas… (um importante “mas”) melhorado em dois pontos; na fixação do cano à caixa da culatra, e na rigidez deste último elemento.
Primeiro, treinar!
A apresentação em fogo real da nova BAR 4X teve lugar num “cine shot”, este tipo de instalação de tiro é cada vez mais comum nos países da Europa Central e do Norte, permitindo disparar com as munições com que habitualmente caçamos a um ecrã onde passam “filmes” de cenas de caça real; javalis em corrida, a trote, passo, num número infinito de situações e com uma ampla possibilidade de escolha das espécies “a caçar”.
Cada um dos presentes pode disparar com a BAR 4X em diferentes configurações de cano e de aparelho de pontaria; com ponto-vermelho reflex ou com mira telescópica de batida, ambas as soluções da Kite Optics, fabricante belga parceiro da Browning.
Na verdade, não há grande diferença em disparar com a MK3 ou com a nova 4X, tudo está no mesmo sítio e funciona da mesma forma. Sem dúvida que o armador manual é agora mais fácil de acionar e também de desarmar.
Os javalis foram sendo atingidos, primeiro com situações de animais isolados, depois aos pares e, por último, com varas em corrida! Aqui se vê como por vezes se erram javalis… impossíveis de errar!
“Domaine” de caça
Afinadas as BAR 4X e treinada a mão, estávamos prontos para dois dias de batidas aos javalis no Domaine de Beaumont-le-Roger, localizado na Normandia e um dos locais de caça mais exclusivos de França – e uma das maiores florestas privadas da Europa. Para o nosso grupo, estavam destinados 3.600 hectares de floresta, sem malha (rede) cinegética, portanto, iriamos caçar javalis em aberto.
O objetivo seria efetuar três batidas em cada dia, com os caçadores colocados em palanques de batida (por segurança de tiro) e as manchas com cerca de 300 a 500 hectares a serem percorridas por… pouco mais de uma vintena de cães de pequeno porte. É assim que se caça ali!
A orografia é bastante plana e a floreste consideravelmente densa na maioria dos locais, contudo com vegetação pouco densa no seu interior, o que facilita o trabalho dos cães e dos batedores, que conseguem imprimir um ritmo elevado às batidas.
O comportamento dos javalis é muito irregular, ou seja, tanto saem isolados contra os cães, como arrancam em varas de 20, 30 ou 40 animais dando oportunidade de tiro apenas a um par de postos. Além, disso tínhamos ainda que cumprir uma rigorosa disciplina de tiro: apenas estava autorizado o tiro a javalis com menos de 40 quilos (chamados de “bête rousse”, javalis do ano), ou grandes e velhos navalheiros com mais de 100-120 quilos. Com estas regras de gestão cinegética conseguem manter populações adequadas à capacidade de carga do meio (eliminando javalis de um ano) e deixar crescer os bons troféus. E pelos vistos funciona! Contudo ainda tínhamos que respeitar mais uma regra no que diz respeito aos animais a caçar; o tiro sobre fêmeas de grande porte (com mais de 80 kg) estava sujeito a uma pena pecuniária; 1.000 euros, mesmo para os convidados (que eramos nós!). Acreditem que é bastante fácil identificar os javalis que podemos e não podemos caçar quando está em jogo uma multa de 1.000 euros! Portanto, na dúvida… não se atira.
Primeiro dia a zero
Sim, o primeiro dia foi passado a avaliar o porte dos javalis que me iam passando, para no final do dia “compará-los” no quadro de caça. Confesso que não foi a primeira vez que cacei com este tipo de regras, mas depois de dois anos de ausência forçada (devido à pandemia) na caça aos javalis centro-europeus, estava destreinado.
No final do primeiro dia foram caçados um par de bons navalheiros (a cumprir os 100 kg) e apenas uma fêmea que deu pouco mais de 80 quilos (confirmados na balança). Nada mau!
Confirmação no segundo dia
Na primeira batida do segundo dia fiquei junto a uma estrada de pouco movimento e assim que subi ao palanque de batida, que nos deixa a cerca de metro e meio do chão, vi uma vereda muito seguida entre a minha posição e o caminho. A disciplina de tiro obriga ainda a não atirar para a floresta que será batida, apenas podemos visar os animais que saem da mancha. E neste caso que não fossem na direção da estrada. Pode parecer complicado, mas acreditem que não é, e torna-se muito fácil marcarmos visualmente o nosso campo de tiro, para mais quando a distância máxima para um disparo é de cerca de 80 a 100 metros.
Ainda não ouvia os cães nem qualquer ruído dos batedores e sinto um javali de bom porte na floresta. No seu percurso parou (na tal vereda), olhou para o palanque e deve ter reparado que estava ali “algo a mais”, voltou por onde vinha e… não saiu. Sentei-me e fiquei coberto pelas tábuas do palanque.
Já ouço os cães e um porco pequeno (o tal de “bête rousse”) passa bem perto do palanque e saiu para a zona de tiro autorizado: “Bah! Deixa-o ir… ainda o erro!”.
Parece que não foi mal pensado… a seguir vêm mais porcos, maiores… na frente uma fêmea (identifiquei-a claramente), quatro porcos de 30-40 quilos, que enquadro na mira, mas não disparei… pois senti, pelo canto do olho, algo maior… um macho jeitoso, mas que não teria 80 quilos. Meto-lhe o retículo da Kite Optics 1-6×24 e… confirmo que não está no cardápio.
A sorte esteve do meu lado, pois logo a seguir vinha “o tal”, que tinha enviado o escudeiro na frente. Não me mexo, deixo-o sair da mancha e entrar na zona autorizada de tiro; da BAR 4X parte uma bala Winchester Extreme Point de calibre .30-06 e o poderoso bicho acusa imediatamente o impacto, preparando-se para arrancar em corrida. Em menos de um segundo sai outra bala que o deita ao chão. O resultado: um javali a cumprir os requisitos “mínimos”, a acusar 115 kg na balança e com umas navalhas de amoladeiras respeitáveis.
Isto tinha sido apenas o aperitivo! Na segunda batida voltei a ficar junto a uma estrada, esta com mais movimento, e como a carrinha do “postor” ali estacionada. Mas a caça tem destas coisas; assim que cheguei ao palanque dei com um cheiro a barrasco, daqueles que não enganam… Permaneci imóvel e com o maior silêncio possível, inclusive deixei passar dos porquitos de 40 quilos, até que uma hora depois chegam uns canitos Jack Russel que fazem arrancar dos caniços atrás do palanque uma “bisarma” de porco que passar a roçar as pernas do palanque. A BAR 4x não o deixou ir longe e duas balas Extreme Point seguidas apenas o deixam andar mais uns vinte metros.
Uma semiautomática em mãos inexperientes pode ter como resultado esvaziar o carregador em dois segundos, mas com calma a carabina semiautomática é a arma ideal para as batidas de javalis, não há argumentos que possam contrariar esta afirmação.