Quando a conversa versa sobre cartuchos frequentemente ficamos calados por não dominar o tema deixando à “solta” certos mitos e falácias sobre “perfuração”, energia e alcance. E por vezes as coisas são bem simples…
Sabemos que existem vários tamanhos de chumbo e que por vezes, em função da espécie e método de caça, se utilizam um
número e outras vezes outro. Basicamente, é isto! Vamos começar por esclarecer (todos devem saber) que o número do chumbo é maior quando menor é o seu tamanho, quer isto dizer, um bago de chumbo número 10 é muito menor do que um bago de chumbo número 7, este por sua vez menor do que o 5, etc. De acordo com as peças que vamos caçar e condições de caça adequamos o número do chumbo a utilizar; para pequenas aves como o tordo, codorniz e narcejas, por exemplo, utilizamos chumbo miúdo (menor do que 8); para quase todas as peças quando se preveem disparos a média distância a opção poderá ser 7 ½ ou 7, cobrindo aqui desde os torcazes no verão às perdizes e coelhos na abertura; os chumbos mais grossos, como o 6 e 5, inclusive o 4, são reservados para os últimos dias da temporada e para peças como a lebre ou as aquáticas de maior porte.
Adequar a escolha à necessidade
O chumbo a utilizar para cada peça de caça deve ter em consideração o seguinte: um chumbo demasiado fino não será eficaz
em peças de caça de maior porte e resistência devido a uma menor penetração e energia; um chumbo demasiado grosso não será tão eficaz em peças pequenas devido a uma menor densidade na distribuição. Por isso é muito importante caçar com o número de chumbo adequado à peça de caça e à distância média de tiro, de acordo com o processo de caça praticado (salto ou espera), tipo de terreno e comportamento da caça. Pensemos que será sempre melhor conseguir quatro ou cinco impactos de chumbo mais fino numa peça de caça do que um único impacto de chumbo mais grosso. Depois vamos “afinar” o processo com uma escolha adequada de choke (ou chokes).
A dureza
Outro aspeto a ter em conta é a dureza do chumbo, algo que é difícil ter uma referência concreta, pois os fabricantes de cartuchos não apresentam uma classificação para esta valoração, limitando‑se por vezes a referências vagas de “chumbo endurecido”, “chumbo premium” ou indicando a percentagem de liga (antimónio). Mas será importante reter o seguinte: o chumbo utilizado nos cartuchos de caça será mais macio do que o chumbo utilizado nos cartuchos para a prática do tiro ao prato. Simplesmente porque na caça o chumbo mais macio transmitirá melhor a sua energia à peça no impacto e ao se deformar mais aumentará a sua superfície. No tiro ao prato, um chumbo mais duro terá maior probabilidade de perfurar o alvo e assim quebrá‑lo, além de que com maior dureza os bagos sofrem menor deformação ao passar pelo choke e assim conseguem manter uma trajetória mais retilínea (maior esfericidade). Por isso não se devem utilizar cartuchos de pratos na caça!
A energia de cada bago
A faculdade de cada bago poder abater a peça de caça radica na energia que seja capaz de transmitir com o impacto na peça. Ou seja, ao impacto com uma perdiz ou um coelho, o bago de chumbo (ou bagos) levam uma determinada energia cinética para causar dano ou comoção no organismo do animal, que será tanto maior quando a importância do órgão vital atingido,
podendo assim provocar a morte, inclusive imediatamente. Logicamente, o número de impacto terá influência na eficácia do disparo. Consideremos o exemplo de uma perdiz alcançada por cinco bagos de chumbo de um disparo realizado a uma distância adequada; com chumbo de dureza apropriada – suficientemente dúctil para deformar e transmitir a sua energia
cinética e com a necessária dureza para assegurar penetração – cobraremos esta perdiz sem problema. Se o número de impactos for menor (com um chumbo mais grosso reduzimos o número de bagos na carga e assim obteremos uma menor
densidade de chumbada) o risco de apenas ferir a peça e não a cobrar será maior.