Uma viagem à Guiné- ‑Bissau, para nós, é rapidamente associada à caça às rolas. Mas não tem de ser assim! A “nossa” Guiné é um destino de grande diversidade cinegética, como poderão comprovar nesta reportagem realizada há cerca de dois anos.
Por me ter sempre sido apresentado um menu muito pouco diverso, sempre focado na caça às rolas, durante vários anos preferi outros destinos (em país vizinho) em detrimento da Guiné-Bissau. Sei que as rolas reúnem as preferências de noventa e nove porcento dos caçadores que visitam este país, mas sinceramente acho que nunca tive “estofo” para cinco dias de caça às rolas, de manhã e à tarde.
PROGRAMA DIVERSO
Desta vez foi diferente. O grupo pretendia diversidade e a organização prometia além da diversidade quantidade, de lances e diversão. Bastou uma primeira conversa com o José Pedro – responsável pela organização – e fiquei convencido. A nossa base seria a região de Bafatá, no centro-norte da Guiné- Bissau. Na língua local, o fula “bâ-fatá” significa “o rio está cheio”, referindo-se às zonas alagadas da bacia do rio Geba. A água é o “motor” da vida e da diversidade, portanto, tudo estava a bater certo. Outro atrativo do programa oferecido por esta organização – a West Africa Hunting – é o facto de partirmos de Portugal com uma base “tudo incluído”. O que quer isto dizer? Precisamente isso mesmo, no preço proposto tudo está incluído, voos, alojamento, alimentação, um mochileiro e 250 cartuchos por dia de caça. São poucos tiros? Bem, se ficar sempre nas rolas não vão chegar – mas tem sempre possibilidade de comprar mais –, para nós, que fizemos muita caça de salto foram mais do que suficientes.

E VAMOS CAÇAR!
Passamos já para a caça, pois todo o processo de transporte de armas, tanto à partida como à chegada, fez-se num instante, sem qualquer tipo de problema. E o percurso de carro entre Bissau e Bafatá também não incomodou. Arrancamos a caçar… rolas! Claro, o amanhecer é o período ideal para apanhar uma passagem desta rápida e desafiante ave, que todos gostamos de caçar. Na primeira hora de caça já estavam 100 tiros queimados, há que começar a escolher e tentar apenas dobles. Ainda fiz alguns. Mas o José Pedro começa a reunir a equipa e avisa-nos que mesmo ali ao lado vamos às “chocas”. Então, mas os pássaros estão aqui, mesmo com as centenas de tiros que demos? Ah pois estão! Não eram poucas, as “chocas”. Um festival destas “perdizes” africanas (francolins) a sair das espinheiras e a tentar chegar ao outro lado do rio. Mesmo com muita aselhice à mistura, em uma hora cobramos duas dezenas destas aves e o par de lebres. E assim passamos a primeira manhã de caça. O calor começou a apertar e em trinta minutos estávamos no alojamento prontos para a piscina.
GANGAS
As gangas são aves da família dos nossos cortiçóis, que ainda se encontram no Baixo-Alentejo. São aves que me fascinam, tanto pela sua beleza, como pela caça. Difíceis de encontrar durante o dia, pois recolhem em zonas de vegetação muito densa, e com um voo que faz lembrar a galinhola. Nesta viagem encontrei o paraíso das gangas! Já as cacei em vários países se África e nunca vi tal densidade como aqui em Bafatá. Ao caminharmos nas margens do rio, entre vegetação densa, mas que permitia a nossa locomoção com espingarda em guarda- -média, levantavam dezenas de gangas. Poderíamos ter feito uma “esteira” de gangas em qualquer um dos dias que as caçamos, mas não fizemos. O José Pedro defende uma gestão racional das áreas de caça, nunca exagerando nos abates, algo que vi sempre fazer em outros países que cacei à menor com organizações estrangeiras. Uma boa medida e que revela a preocupação de caçar com conta, peso e medida.
DIVERSIDADE E DIVERSÃO
Estas duas palavras definem bem o que podemos esperar deste programa de caça na Guiné-Bissau: diversidade de caça, alternando as rolas com a caça de salto às “chocas”, gangas e lebres; e diversão, pois a caça menor permite um nível de descontração muito maior do que quando partimos para um programa de caça maior e, neste caso, com a modalidade de “tudo incluído” ainda melhor, no final não temos surpresas “inesperadas”. A Guiné-Bissau é um país fantástico, com uma beleza incrível, com flora e fauna bastante diversas, a variedade de aves (não cinegéticas) é incrível, à qual a riqueza da água, presente em todos os locais onde caçámos, não é alheia.
