Talvez a maioria dos caçadores ainda não tenha dado conta, mas a pressão para proibir a caça à codorniz – ou pelo menos dificultá-la – tem vindo a aumentar. E a estratégia levada a cabo por quem pretende colocar a codorniz como espécie vulnerável está a dar os seus frutos. Tudo indica que, a seguir à rola-brava, a codorniz é a seguinte da lista.
Em 2020 a codorniz-comum foi eleita como “Ave do Ano” pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/BirdLife). Só para lembrar, a rola-brava também foi eleita com “Ave do Ano”, em 2012. Diz o comunicado da SPEA, de janeiro de 2020, que “Embora em Portugal ainda seja uma ave comum, a codorniz poderá brevemente deixar de o ser, se não forem implementadas medidas para travar o desaparecimento da diversidade natural dos nossos campos. Sem uma política agrícola sustentável, a codorniz irá certamente seguir o caminho de outras aves de zonas agrícolas: o declínio.” O veredicto estava dado e mesmo com as causas para o declínio claramente identificadas
(expansão das monoculturas, desaparecimento dos pousios, eliminação de sebes e margens dos campos com vegetação autóctone, e ainda o aumento de herbicidas e inseticidas) parece que a primeira solução para travar o vaticinado declínio será interromper a caça.
REAÇÃO IMEDIATA
Como mencionamos, também em Espanha a codorniz foi “Ave do Ano” em 2020 e rapidamente soou o alerta entre as federações e entidades do setor da caça. Com as limitações impostas pela pandemia alguns dos projetos que procuram dar respostas ao vaticínio de declínio e argumentar pela continuidade da caça à codorniz tiveram algumas dificuldades em serem implementados no terreno, mas em 2023 arrancaram com a necessária força, com o Dr. Jesús Nadal, da Universidade de Lérida, num projeto iniciado com a FEDENCA – Fundação para o Estudo e Defesa da Natureza e da Caça –, ligado à Real
Federação Espanhola de Caça (RFEC –fecaza.com) e logo com a parceira da Fundação Artemisan (fundacionartemisan.com). Com a mesma rapidez, o gabinete ministerial do Governo de Espanha com a pasta do ambiente criou uma Comissão Científica com membros escolhidos “a dedo”, entre ecologistas anti-caça e elementos do programa SACRE, levado a
cabo pela SEO /Birdlife, e que faz o acompanhamento “científico” – com voluntários – de censos de várias espécies de aves.
OS CENSOS
Segundo o que podemos ler consultando o website do Programa SACRE (https://seo.org/sacre/), o mesmo “facilita o conhecimento do estado de conservação das aves mais habituais no nosso território”, neste caso, em Espanha. Para isso ainda
nos informam que “apenas são necessários dois dias em cada primavera, com voluntários com um nível médio de conhecimento na identificação das aves”. Como podemos ver, os critérios para participar neste “programa científico” são, no mínimo, pouco rigorosos. Desde há anos que várias organizações responsáveis pelos censos de aves têm representação no “European Bird Census Council” (EBCC) e mais recentemente na “PanEuropean Common Bird Monitoring Scheme Project”
(PECBMS), organizações que atualmente assistem a Agência Europeia do Ambiente. Procurando oferecer dados que permitam continuar a caçar a codorniz, de forma sustentável, o “Projeto Coturnix” que decorre em Espanha, contou com financiamento de uma empresa de seguros, a Mutuasport, e que “avalia o estado de conservação da codorniz em Espanha”. No website da Fundação Artemisan podemos encontrar os resultados de 2020, 2021 e 2022 monitorização da espécie. Neste projeto colaboraram mais de 5.000 caçadores e recolheram-se 8.755 amostras biológicas de asas de codorniz, fundamentais para estabelecer razões de sexo e idade das aves capturadas. Simultaneamente está a ser feito um trabalho de estudo sobre distribuição, origem e sobrevivência das aves, com ações de anilhagem. O objetivo é fornecer dados concretos e fidedignos
sobre a espécie e assim poder decidir quanto ao futuro da sua caça.
EM PORTUGAL
Desconhecemos a realização de qualquer estudo direcionado para a codorniz, sua distribuição e abundância no território de Portugal continental. No entanto, a SPEA continua a levar a cabo o Censo de Aves Comuns (CAC), um programa de monitorização a longo prazo de aves comuns nidificantes em Portugal. No relatório publicado referente ao período 2004-2020 a codorniz (Coturnix coturnix) surge com uma tendência populacional “Estável”, em Portugal continental. As ações de centos do CAC tiveram início a 1 de abril e prolongam-se até 15 de junho (2024). A metodologia dos censos é simples: 5 minutos em cada ponto e cada visita sequencial aos 20 pontos tem de ser feita num só dia, entre o amanhecer e as quatro horas seguintes. E todos podem participar! Isso mesmo, basta ter capacidade de identificação visual e auditiva das espécies de aves mais comuns e meio de transporte próprio. Não tem experiência? Não tem problema, poderá participar numa ação de formação realizada pela SPEA.