Os problemas aparecem quando estamos a caçar, e as pessoas ficam muito preocupadas em solucioná-los enquanto caçam.
É errado amigos: se estamos a caçar, estamos a caçar; não é altura de corrigir alguma coisa ou de treinar. Podemos é consolidar certas coisas que já treinamos nas semanas anteriores à abertura da geral.
ASPETO PSICOLÓGICO
De facto, há um aspeto psicológico que desaconselha que não façamos nada com o nosso cão enquanto caçamos. Talvez o nosso instinto de predador, chamado de “ânsia” nos faça ter prioridades nesses momentos e asseguro-vos de que o cão não
é a vossa prioridade. Abater uma peça, pô-la no colete, essa sim é a prioridade. Para fazer qualquer tipo de correção, consolidação ou simplesmente para treinar, a nossa prioridade deve ser o cão e não os músculos que trabalham para que o nosso dedo consiga premir o gatilho. Por isso, se o cão não for a prioridade, é melhor que nem façam nada, a não ser “ralhar”
por cada peça que o cão espante ou não cobre. Obviamente que falo sempre de suposições e com um tom irónico e não satírico, apesar de por vezes também se aplicar bem.
CONSELHOS SOBRE QUAISQUER PROBLEMAS
Diante de qualquer problema que tenhamos numa jornada de caça, quero dizer que o melhor que podem fazer é analisar bem e procurar uma explicação para o cão fazer aquilo que faz, porque falha onde falha. Observem bem e depois de aprenderem a linguagem canina vão perceber que foi por vossa culpa que isto aconteceu em, pelo menos, 90% dos casos.
Ok, estive a analisar bem e não vi nada, mas gravei o meu cão e percebe-se que cobra uma perdiz de asa e eu vou atrás dele e digo “cobra, lindo, muito bem, cobra, aqui…” e o cão continua a correr com a peça, e até o faz mais rápido. É muito difícil que ele me entregue, mas isso não acontece quando o treinamos no pátio lá de casa. Ok, vamos analisar esse vídeo: porque é que está a ir ao encontro do cão? Com essa atitude está a provocá-lo (você) e a fazer com que o cão o veja como um competidor. Se o seu cão, em termos de hierarquia, fosse um cão submisso, largava a peça e pouco a pouco aperfeiçoava o cobro até que isto desaparecesse, e nunca perceberia que foi por sua culpa. Mas como o seu cão é forte (falando em termos hierárquicos) ou seja, dominante, e vê a peça como algo seu, então não a solta e foge com ela. E é você que o está a incentivar a isso. O que fazemos? Durante o lance nada, porque qualquer coisa que façamos e não façamos bem, vamos piorar a situação, e mais grave ainda, haverá consequências. E vou deixar que enterre a peça ou que, inclusive, a coma? Sim claro. Se fizer alguma coisa não vai correr bem, porque o seu tom de voz vai subir, e o cão associará isso como um castigo, tendo em conta as suas sensibilidades (caráter e experiências anteriores vividas) a sua conduta vai incidir sobre uma ou outra: nesta situação em que
está zangado, pode abordar o problema ou piorá-lo, e como não estamos seguros, o melhor é não fazer nada por enquanto.
Precisa dessa peça para não morrer à fome? Não, verdade? Então é melhor não fazer nada, porque o trabalho deverá ser em
casa, porque é aí onde se fazem os deveres, fora da jornada de caça.
E vou fazer o quê em casa, se ele no pátio cobra perfeitamente? Logico, tem tudo a ver com a sua inteligência ambiental, que são produzidas pelos cães e a que nós chamamos de “associações de lugar”. Se treinam, ensinam, jogam… num mesmo lugar, esse lugar será associado a uma determinada conduta. Ao mudar de lugar e, além disso, ao elevar as motivações de uma jornada de caça (tiros, cheiros, outros cães, etc.), a associação que havia, mudou. Para solucioná-lo, devemos primeiro subir de forma gradual as motivações, ou seja treinar o cobro com pombos, com “bonecos” feitos com penas, peças congeladas, peças descongeladas e, finalmente, peças vivas (sem voar), e tudo por esta ordem. Obviamente que podem saltar fases ou fazerem-no logo com peças vivas com a asa cortada, mas se o fizerem step by step a construção será mais sólida do que se colocarem
tudo de uma vez só. Depois disso, devem mudar-se do pátio para as traseiras da casa, por exemplo, e depois até outro sítio
qualquer diferente. Devem fazer os trabalhos de casa desta forma, e no próximo dia, enquanto caçarem, verão que terão apenas de consolidar tudo isto.
OBEDIÊNCIA BÁSICA E ESPECÍFICA DE CAÇA
O problema de que falamos agora foi somente um exemplo das centenas de contatos que nos chegam todas as semanas desde que começou a época, apesar de todos terem o mesmo em comum. Querem uma solução para as coisas, em vez de terem feito os trabalhos de casa. Muita gente que treina com o seu cão, desde cachorro que lhe ensinam a obediência básica, mas mesmo assim na caça há algo que corre mal. E voltamos ao mesmo, neste caso não é às associações de lugar, mas sim a uma falha que também é muito comum. As pessoas não percebem que a obediência se chama “básica” por algum motivo, por ser a base. A base de quê? Para o que é preciso depois, e por isso agora a obediência básica não nos serve para nada durante
uma jornada de caça. É outro exemplo muito comum. O que se deve fazer depois da obediência básica ou, melhor ainda, em simultâneo: o trabalho de obediência específica de caça. Caso contrário (e outra vez) diante a subida de motivação, o cão tenderá a desobedecer quase sempre. E se preferir o prémio de uma salsicha a correr atrás de uma lebre e nos obedece é
mau sinal.