Posso jurar que nunca pensei que algum dia iria escrever um artigo que explicasse a diferença entre o remontar e a guia. Estou a referir-me a remontar uma emanação, o cheiro que deixa qualquer animal; e a guia, essa aproximação cautelosa e tensa que o cão faz depois de parar, como uma forma de se conseguir aproximar da peça, seguindo também o seu cheiro, a emanação que essa peça deixa.
Metem-se a ver comentários nas redes sociais e percebem que há uma percentagem muito alta de caçadores que percebem muito pouco acerca dos seus cães de parar. Continuam com a sua filosofia de que não caçamos através dos “papéis” e que o pedigree é só para os cães de exposições de beleza mas o que é certo é que, curiosamente, a sua incoerência leva-os a aderir a grupos de raças concretas (ninguém percebe tal coisa). Já expliquei o que significam os papéis e porque é que os cães caçam e não caçam. Os papéis (o LOP, que nos facilita o pedigree, que é a genologia) são seleção e sem eles não existiriam as raças com as que caçamos atualmente e, por isso, que servem para caçar. Se todos tivessem feito aquilo que se está hoje a fazer, ninguém daria importância à genologia e se todos juntassem o “Bobby” com a “Chispa” não haveria raças. Sem a seleção morfológica, sem a seleção de determinados aspetos de trabalho (neste caso, de caça), não teríamos os cães de parar; teríamos sim uma única raça de uns cães, em que uns param e outros andam no rasto. Há muita gente que publica vídeos para mostrar as virtudes do seu cão, mas virtudes essas que só a pessoa que publica é que aprecia. Mas obviamente se surgir um debate, acabamos por perceber que a presunção é somente devida à ignorância; nem sabem o que é uma paragem, nem o que é uma guia, e nem sequer sabem o que está realmente a fazer o seu cão.
Mostra e paragem
Não é o mesmo; só os cães de parar que pertencem às raças de cães de parar, englobadas no Grupo 7 (Federação Internacional de Cinofilia) podem entrar em mostra. O que fazem os cães que pertencem a outras raças que não se incluem no Grupo 7 pode ser chamado de parar, mas nunca de mostra. A mostra é um processo químico cerebral e que apenas acontece em cães de parar; há uma tensão inata na mostra; na paragem não. Uma paragem é um cálculo de distâncias, um parêntesis na busca para localizar a peça (através do ouvido, da visão ou do nariz) antes do comportamento que leva a levantar essa presa que está no seu encame. É outra forma diferente de caça, estarem absolutamente estáticos. A mostra só acontece quando há uma segurança total de que a presa está onde o cão a aponta; o seu cheiro “incriminou-a” e o cão não se mexe, não vai tirar a presa do seu encame porque é um cão de parar. A paragem é o que antecede a mostra mas desculpem-me, não é uma mostra.
Remontar e guiar
Durante a ação de caça, quando um cão leva a cabeça alta a ventos, devido à emanação que é liberta pela presa, ou porque já se mexeu ou porque está, por exemplo, a patas (o vento espalha as partículas odoríferas atmosféricas formando um cone odorífero) é intitulado de remonte. Se um cão fizer o mesmo que acabamos de descrever, mas com a cabeça no chão, seguindo as partículas odoríferas pesadas que a presa vai deixando com as suas patas, durante o seu movimento, chamamos
então a isso rastrear, ou seja, seguir um rasto. Mas se um cão diminui a velocidade no seu percurso durante a busca e fica em mostra e, depois disso e após uma pausa, começa a avançar de forma cautelosa, lenta, com tensão, com passos curtos e cuidadosos, então estamos a falar de uma guia. Se não há mostra não há guia, é simples. É muito diferente um cão que pára a
sua busca e depois remonta uma emanação para dar com a peça, de um cão que espera por nós e começa então depois a avançar até à peça da forma que já descrevemos: cautelosa, com tensão, bem por sua conta, bem à nossa ordem; isto é uma
verdadeira guia.