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Onde param os 9 milímetros?

by Redação

Já foram a “solução” para todos os males (tiros mal colocados) na caça ao javali, tanto em montaria como de espera. Hoje os magníficos e poderosos calibres 9 milímetros – onde enquadramos o 9,3×62 e o .35 Whelen, por exemplo – estão quase esquecidos. Vamos relembrá-los e deixar aqui algumas das suas virtudes.

Existe uma ampla família de calibres de caça cujos projéteis rondam os 9 milímetros de calibre nominal, que podemos de forma simplificada dividir em dois grupos: os de designação anglo-saxónica .35” (polegadas); e os que usam a denominação europeia de 9,3. Tanto na Europa como nos Estados Unidos da América, cada grupo ao seu estilo, entra em ação quando se torna necessário um calibre com bom “poder derrubante” (é assim que habitualmente chamamos) em tiros a curta e média distância. Isso acontece porque estes calibres possuem características excecionais, que são o seu generoso diâmetro e considerável peso dos seus projéteis. A primeira produz ferimentos exuberantes (maior diâmetro, maior canal), que vão garantir um bom rasto de sangue; a segunda, porque garante elevada penetração e assim o alcance de órgãos vitais mesmo em ângulos de tiro menos favoráveis, além de um choque traumático que contribuirá para afetar (mesmo que momentaneamente) as capacidades da rês. Na América do Norte dos caçadores sempre contaram com estes calibres para caçar peças de grande porte, como os ursos, alces, grandes veados (wapiti) e o bisonte. Regra geral os disparos são feitos a distâncias não muito longas e, não poucas vezes, podem servir ainda para travar uma carga. Na Europa, o veterano 9,3 renasceu com a popularização das batidas de caça maior, onde o javali é rei e, como sabemos, encaixa bem os tiros. Para reduzir as possibilidades de discussão sobre a posse do troféu (na Península Ibérica) ou a perseguição com cães de rasto de reses feridas (na Europa Central), o 9,3×62 voltou a ter a sua época dourada entre o final do último século e início do presente. Na caça de batida e montaria as reses entram aos postos acossadas pelos cães ou sob stress do ruído dos batedores, com todos os seus mecanismos biológicos de defesa ativados e normalmente em movimento, o que não permite uma apurada colocação do tiro. Temos de concordar que um calibre maior nos dará mais vantagem no caso de um impacto menos bem colocado. Vamos passar em revista alguns dos mais populares calibres 9 milímetros e outros, que não o sendo, ficarão a fazer parte do vosso “léxico monteiro”.

.357 MAGNUM

Um calibre criado pela icónica Smith & Wesson em 1934, famosa pelos seus revólveres, precisamente para esse tipo de arma curta. O objetivo era ter um calibre que garantisse um elevado choque hidrostático e aqui temos de pensar no estilo de vida norte-americano nessa época, em que o uso diário de armas era comum em grande parte da população rural. Ter uma arma de mão e uma carabina que serviria para caçar e como arma de defesa que utilizassem o mesmo calibre era uma clara vantagem. É aí que entra o .357 Magnum como calibre de caça, embora limitado nas armas longas às carabinas de alavanca (Lever Action). Atualmente temos no mercado alguma oferta em armas deste tipo no .357 Magnum; as Winchester Model 94 ou 1892, ou as Marlin. O .357 Magnum não será um colosso em energia para arma longa (em arma curta é!), mas é eficaz em tiros até 100 metros, com a grande vantagem de ter um recuo muito moderado.

.35 WHELEN

Um calibre de uso relativamente universal, graças à sua utilização na popular carabina semiautomática Remington 7400 (na sua versão mais recente), embora hoje descontinuada. O .35 Whelen nasceu na década de 1920, com base no invólucro do .30-06 Sprg. alargado para receber um projétil de 9 milímetros. Uma jogada de mestre, que resultou num cartucho suave de disparar e de considerável “poder derrubante”. Nos E.U.A. o .35 Whelen foi ganhando popularidade na década de 1960, mesmo depois do fracasso de um concorrente comercialmente mais forte, o .358 Winchester, mas muito graças à popular carabina semiautomática fabricada pela Remington. Entre os monteiros ibéricos, o conjunto formado pela “automática” Remington e o .35 Whelen foi um sucesso e embora hoje esteja esquecido, a verdade é que é um exemplo de eficácia em montaria. 9,3X62 Quando falamos em 9 milímetros é o 9,3×62 que vêm imediatamente à conversa. Foi criado em 1905 pelo alemão Otto Bock, com o propósito de ser um calibre “todo- terreno” para as colónias germânicas em África. E ainda hoje é “o calibre” nessa região do globo. Não anda muito longe em prestações do .35 Whelen, embora o 9,3×62 seja muito mais popular na Europa. A oferta de armas modernas é bastante vasta e praticamente não há fabricante que o coloque no seu catálogo de carabinas de ferrolho. Também já foi muito popular entre as semiautomáticas, embora tenha alguns “contras”; excessivo recuo e uma probabilidade de encravar superior ao de outros calibres disponíveis neste tipo de armas, principalmente por poder carregar projéteis de pesos bastante diferentes. É precisamente na versatilidade de poder carregar projéteis numa muito ampla gama de peso que o 9,3×62 pode ganhar. Encontramos no mercado munições com projéteis entre os 120 e os 325 grains! Por este motivo existe a “crença” popular de que o 9,3×62 apresenta elevada queda balística; tudo depende do projétil utilizado. 9,3X74R Um calibre que confunde muitos caçadores menos “metidos” nestas coisas da balística. Apesar de mostrar um invólucro mais longo (74 mm, contra 62 mm do calibre anterior), o “74R” desenvolve velocidade e (consequentemente) energias inferiores. E também não foi criado a partir do 9,3×62, nem o contrário… na verdade não existem registos fidedignos sobre quem foi o criador do 9,3x74R, que terá acontecido na Alemanha por volta de 1900 e como alternativa ao calibre britânico .400/350 Westley Richard. Tornou-se imediatamente popular nas carabinas de canos basculantes, graças às suas prestações muito similares ao .375 Holland & Holland Flanged Magnum – que também nada tem que ver com o .375 H&H Magnum. Como está na sua designação, o 9,3x74R é um calibre “rimed”, com rebordo, ou “pestana”, como referem alguns autores na língua portuguesa. Agradável de disparar, graças ao recuo moderado (também atenuado pelo peso das armas de dois canos “express” que o disparam) e muito eficaz. É um prazer caçar com o velho 9,3x74R. E se procurarmos bem, vamos encontrar armas de qualidade e muito engraçadas no mercado de usados a um preço… digamos… que não dói muito!

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