Início » Época estival: Codornizes, odores e cães

Época estival: Codornizes, odores e cães

by Jesus Barroso de la Iglesia

Todos aqueles que têm uma boa zona de caça de codornizes aguardam, ansiosamente, pelo primeiro dia de caça com cães de parar. Sempre se disse que a codorniz era a melhor escola para o cão de parar, e para se iniciarem cachorros. Mas não é verdade, porque a melhor escola para iniciar os cachorros era a abundância da codorniz selvagem. Algo bem diferente.

Sim, amigos, a codorniz é uma peça muito complicada para um cachorro, principalmente devido a duas razões diretas e a uma razão indireta:

• O seu tamanho faz com que liberte menos quantidade de partículas odoríferas;

• A sua grande mobilidade dificulta a localização precisa do sítio onde está para um nariz inexperiente, como o de um cachorro.

A razão indireta prende‑se com o calor, que neste período do ano afeta a mucosa pituitária do cão e resseca‑a, ficando com menos capacidade olfatória. A pituitária, composta por células olfativas, precisa de um certo grau de humidade para definir e diferenciar as emanações que recebe. Se a isto somarmos que o calor provoca diferenças nas correntes de ar, temos o cocktail do contra formado. Ao lerem aquilo que escrevi, alguns de vocês podem pensar que sempre iniciaram cachorros e que estes encontravam, paravam e fixavam bem nas mostras os sítios das codornizes. Na verdade, e como acabei de vos dizer; o que fazia com que fosse fácil as “africanas” era a sua abundância. Por cada codorniz que o cachorro parava e que, de facto, estava no sítio, tinha ao seu redor outras seis ou sete codornizes, no mínimo; e mais, de certeza que a que saía e a que nós atirávamos não era aquela com a que o cachorro estava parado. Mas essas já são teorias minhas e não posso provar nada, falo apenas pelas minhas experiências pessoais. Devido à base da experiência com a codorniz selvagem, os cachorros vão‑se tornando cautelosos e param melhor, para não as espantar ou simplesmente porque têm dúvidas (cheiram aqui, cheiram ali e mais além, e param, centram‑se, depois guiam a emanação mais forte ou, quiçá, a mais fácil…). Quantas codornizes velhas e experientes se abatem nos primeiros dias? Poucas, não é?

A mobilidade

Talvez este seja o aspeto que mais dificulta a localização e a paragem da codorniz. Sim, a sua grande mobilidade, pois não param quietas. A partir do momento em que o nosso cão pisa o restolho e a codorniz sente o barulho, começa a andar em carreiras, sem sentido, pelo menos sem um sentido coerente sob a perspetiva humana. Talvez estejam programadas para se moverem dessa forma e a coisa tenha sentido para elas (quiçá procurem zonas com mais vegetação ou ervas que camuflem a sua cor, não sei). Estas carreiras deixam o cão confuso que, ao detetar a emanação de uma codorniz tem de tomar uma decisão: para onde? Claro, porque a codorniz obviamente já não está onde o cão a detetou. O que chegou ao nariz do cão foram as partículas odoríferas atmosféricas (caso se lembrem, são as menos pesadas; e pesam tão pouco como o ar e mantêm‑se a flutuar como nuvens, enquanto se vão dispersando).

E é precisamente esta a estratégia que o cão utiliza para seguir a direção correta e adivinhar onde se encontra a fugidia codorniz; essas pequenas nuvens de partículas que flutuam e se vão dispersando, mas… Quando? Como? Porque se separam de origem, da codorniz, em forma de um cone odorífero (no meu livro “O caçador de estímulos”, explico‑vos isto tudo), de tal forma que o cão aprende rápido, ao falhar e ao ter sucesso, que quanto maior a concentração de odor, mais perto estará a codorniz, acabando por seguir a direção correta para encontrá‑la e depois pará‑la.

Mais que escola, a universidade

Bem, lembrem‑se que falamos de cachorros, de iniciação, ou seja, das primeiras experiências desses cachorros. E vocês diziam que a codorniz era escola? Para mim a escola é o lugar onde aprendo de forma simples, pouco traumática e que me prepara para a universidade, mas tenho notado que hoje em dia, com a escassez da codorniz, a época estival para um cachorro supõe entrarem já diretamente para a universidade, sem passarem sequer pela escola “normal”. Por isso, não exijam muito dos vossos cachorros, já que precisam primeiro de ter experiências, e de que estas sejam positivas. Lembrem‑se que um lance por si próprio vale mais do que 20 acompanhados de um adulto que encontra por ele próprio, cobra por ele próprio e impede o cachorro de se desenvolver completamente.

Um conselho importante

Hidratem os vossos cães, deem‑lhes água antes sequer deles mostrarem que têm sede, pois assim podem evitar os malditos golpes de calor, que podem acabar com a vida dos vossos companheiros ou deixarem‑lhes mazelas nos rins para o resto da vida.

You may also like

Leave a Comment