Os dias de vento são inevitáveis no inverno e muitas vezes acabam por condicionar bastante a jornada de caça logo de início, com vários caçadores a desistirem desse dia. Basta pensarem em como se torna difícil avançar no terreno e como tudo se complica para colocar as perdizes a tiro, muitos são os caçadores que não saem do “cortiço”. E se caçarmos numa zona em que o vento faz parte do ambiente natural?
Sempre partimos de uma situação ideal quando planeamos as nossas jornadas de caça: raras vezes pensamos em dias de chuva, muito calor ou frio, ou vento muito forte. Mas inevitavelmente esses dias vão fazer parte das nossas jornadas programadas ao longo da temporada. Por isso vamos de seguida ver algumas estratégias que permitirão aproveitar esses dias de vento forte e, pelo menos, tirar algum proveito. O caçador de perdizes deve conhecer bem as querenças dos bandos e de pequenos grupos de “pássaros”. Salvo raras exceções, em dias de forte vento (muitas vezes com temperaturas baixas) as perdizes não se afastam muito do seu terreno habitual. E mais, com muito vento há bandos que nem sequer saem das suas dormidas, procurando assim resguardar-se e apenas se movem o estritamente necessário. Nesses dias de “pássaros” quase ocultos, que se movem pouco e que resistem a apear e a voar mesmo à nossa chegada, o segredo está em “tocar” nos pontos onde sabemos haver condições de resguardo, entrando de maneira cautelosa. Poderá ser um desnível de terreno, um arrife, ou até mesmo um muro velho, o que interessa é surpreendê-las.

HÁ DIAS DE VENTO E DIAS DE VENTO…
Quando o vento é leve, facilmente o vencemos na nossa caminhada e na verdade o comportamento das perdizes pode não ser ver muito afetado. Mas quando o vento é forte, muito forte, as coisas mudam radicalmente. Nesse caso torna-se difícil andar bem centrado no terreno com os nossos cães, que caçam como loucos e perdizes… essas, nem vê-las. Apesar de tudo, podemos sempre ter algumas opções e sempre que cacemos com talento e nos dediquemos a procurar os locais de refúgio da caça, vamos conseguir atirar a algumas peças. Há que parar e observar, olhar para o terreno abordável num curto/médio espaço de tempo, tentar descobrir os obstáculos e, acima de tudo, os locais que possam ter uma perdiz amagada. A busca será sempre feita de costas para o vento, para entrar a esses pontos sem sermos vistos pela perdiz. Sim, assim será muito complicado para os cães, mas vamos procurar lateralizar em alguns pontos para lhes darmos hipótese de detetarem emanações. O importante será adaptarmo–nos a cada situação, procurar nas zonas abrigadas, desníveis de terreno, arrifes, inclusive construções abandonadas. Nestes dias com muito vento a perdiz não conseguirá pastar como habitualmente tentam permanecer agrupadas o maior tempo possível, sendo esta a sua estratégia de defesa dos predadores, pois estão diminuídas do sentido de audição.
Tiros rápidos
Encarar rápido, mas com segurança e assertividade, acaba por dar vantagem em qualquer situação, mas nestes dias de vento é ainda mais importante, principalmente quando nos sai uma perdiz “pisada”. Há que ter cuidado com a roupa que vestimos, não só modifica o encare (enchendo o espaço entre o ombro e a coronha), como poderá prender a coronha no seu movimento de subida. O primeiro tiro é sempre o mais importante, por isso é necessária bastante calma para não soltar o primeiro disparo assim que os canos da espingarda se aproximam da linha de mira da perdiz. Há que seguir a peça, acompanhá-la, e soltar o tiro no momento certo. Cuidado com os disparos que obrigam a rotação da cintura, devemos ser “elásticos” o suficiente para não prender o movimento, sob o risco de deixar os tiros atrasados.
PLANÍCIE FUSTIGADA PELO VENTO
O que realmente importa é procurar vantagem e termos capacidade de suportar as rajadas de vento. Detetados os lugares onde poderão estar as perdizes, vamos manter a linha bem fechada, pois o habitual não será sermos surpreendidos por um “pássaro” mas sim que este se surpreenda à nossa passagem. É importante não avançar rápido, com muito vento as perdizes aguentam muito e resistem a voar. Com o vento não se põem a patas, com a soltura habitual, só se forem muito pressionadas e o farão sempre de bico ao vento. Com o vento pelas costas as suas penas levantam e (diziam os mais velhos) que “lhe doía as penas”. Quando levantam a contravento, procuram de imediato um local para pousar e se esconderem. Num terreno plano mais ou menos despido de vegetação, de obstáculos ou irregularidades, as perdizes aproveitarão qualquer resguardo para se ampararem. Não nos devemos esquecer que um pequeno cerro no terreno poderá ser o suficiente para cortar o vento. Se o cenário foi uma vinha, mesmo desparrada, uma cepa pode proporcionar suficiente refúgio a uma perdiz e muitas vezes avançamos com tal ritmo que as deixamos para trás…

Perdizes que sobem com o vento
São lances que frequentemente nos surpreendem e quase nos matam de susto. São perdizes que ao serem surpreendidas pela nossa proximidade ou a do cão, se elevam quase na vertical e de seguida deixam-se empurrar pelo vento para ganhar distância, conseguindo assim afastar-se algumas dezenas de metros num par de segundos. Aqui há que aguentar o impulso de encarar a perdiz quando salta para cima, deixando a espingarda em guarda média procurando o “pássaro” quando esta procura a sua trajetória paralela à linha do solo. Depois – isto passa-se em décimos de segundo – seguimos a trajetória da perdiz aguentando o ponto de mira sobre ela e “apanhamos” a sua velocidade para intuir o desconto de tiro, enquanto subimos a espingarda à cara, sem nunca parar o movimento. Quanto devemos dar de desconto? É impossível estabelecer um padrão fixo, mas será mais do que calculamos habitualmente. Há que ser generoso no desconto, pois estas perdizes depois de subirem apanham bem o vento. Recordese, o primeiro disparo será aquele que será realizado em melhores condições. Se o lance obrigar a um segundo tiro, o desconto tem de ser ainda mais generoso do que aquele que aplicou no primeiro disparo.
