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Chokes; como funcionam e a sua eficácia

by Pedro Vitorino

No livro “A Espingarda de Caça em Portugal”, de Óscar Cardoso, a minha “bíblia” das armas de cano liso, encontramos um velho adágio inglês que se refere ao choke; “O choke aumenta o alcance da tua espingarda, mas alivia o peso da tua sacola”. Rapidamente depreendemos que com a tentativa de aumentar o alcance efetivo dos nossos disparos “apertando” o estrangulamento cano (o choke) apenas vamos gastar mais cartuchos sem conseguir alcançar letalmente a peça de caça.

A possibilidade de alteramos o choke (ou chokes) veio dar uma maior versatilidade às nossas espingardas de caça e “adaptá-la” melhor ao processo de caça e espécies que visamos em cada jornada. E, pelo que é mais corrente, a escolha do choke funciona mais ou menos assim:  se vou aos coelhos ou galinholas, levo um choke mais aberto; para a perdiz, um mais fechado; para o tordo e rolas, depende… se vão altos… Mas na verdade as coisas não são assim tão simples, principalmente se não soubermos bem qual o efeito que podemos esperar de cada um dos chokes.

Nas últimas décadas os fabricantes de espingardas brindaram-nos com mais opções, afastando-nos continuamente dos conceitos antigos, válidos, mas que já não respondem a uma realidade em que entram em jogo mais variáveis, como a conceção dos modernos cartuchos e suas buchas, ou das novas ligas de chumbo (para não falar dos metais alternativos). Temos que ter em conta que as referências antigas, quando os chokes eram fixos e estava puncionado nos canos o estrangulamento, consideravam as variações de composição do tiro quando se utilizava de forma generalizada cartuchos com bucha de feltro ou cortiça. As buchas plásticas de “copo” mudaram bastante as coisas. Por isso, muitas vezes não acertamos com o choke para a nossa espingarda, esquecendo a influência que o cartucho tem na composição do tiro.

Devemos sempre observar o efeito dos vários chokes disponíveis com as nossas munições, mesmo que apenas consigamos avaliar a concentração/dispersão.

Há que procurar uma combinação eficaz para a nossa forma de caçar e de atirar, para o nosso terreno de caça, inclusive para a distância a que caça o nosso cão, sem perder de vista que hoje, em cada lance, temos que contar com mais variáveis do que há quarto, cinco ou seis décadas. Mas continuamos a acreditar que a “receita” base para o choke mais adequado continua inalterada.

O que representa o choke?

É comum vermos utilizada a palavra inglesa “choke” na principal literatura técnica sobre armas escrita em português; “choke” é a palavra inglesa para “estrangular”, sendo isso mesmo o que se passa na boca do cano, em que existe um estrangulamento da alma do cano, atuando sobre a carga de chumbo (ou outro metal) de uma forma semelhante ao efeito provocado por uma agulheta numa mangueira de água. Assim, será correto chamarmos choke ou estrangulamento, e não “choque”, que no dicionário português é sinónimo de confronto, embate.

Convencionou-se o estrangulamento ou choke de um cano de acordo com a percentagem de impactos obtidos num círculo de 75 cm de diâmetro, comparativamente ao número de bagos da carga do cartucho, num disparo a 35 metros.

Convencionou-se o estrangulamento ou choke de um cano de acordo com a percentagem de impactos obtidos num círculo de 75 cm de diâmetro, comparativamente ao número de bagos da carga do cartucho, num disparo a 35 metros. Os valores podem ser consultados na tabela de “Referência ao estrangulamento” publicada nestas páginas.

O efeito na coluna

O choke não afeta apenas a distribuição de chumbo, mas também a coluna de tiro, ou seja, o comprimento da “coluna” de projéteis (bagos de chumbo, ou outro metal). Vejamos, se tivermos uma mangueira e a apertarmos vamos criar uma coluna de água mais estreita e longa; pelo contrário, quanto mais larga fora a boca da mangueira, menor será o alcance da coluna de água, mesmo com mais caudal.

A moderna tecnologia e recurso a câmaras de vídeo de alta velocidade, veio permitir confirmar a influência do choke no comprimento da coluna de tiro e ao mesmo tempo tornou-se uma ferramenta de análise muito importante para os fabricantes de munições. Por isso a evolução notória nos cartuchos de caça e tiro desportivo nas últimas décadas.

E como a coluna de tiro tem influência nos nossos disparos? Também é fácil de explicar; estamos num dia em que os tordos passam altos, temos o choke *** (5/10) montado na nossa semiautomática e os pássaros teimam em deixar o peneiro da cauda e… lá vão eles… Trocamos para o Full Choke (*) e ganhamos eficácia, os pássaros caem “que nem tordos”. O que se passou? Estamos com o mesmo “tempo de tiro” (apontar, acompanhar, disparar, etc.) e os mesmos cartuchos, que agora têm maior alcance. Certo? Nem por isso! Mesmos os pássaros altos raramente ultrapassam os 30-35 metros, dentro to alcance útil da nossa espingarda e munições, mesmo com o choke ***. No entanto, com uma coluna de tiro mais longa (o que acontece com o choke Full) ganhamos maior margem de erro no cálculo do desconto de tiro, que como sabemos, é dos elementos mais técnicos e difíceis de executar para a maioria dos caçadores.

O choke tem muitos mais “segredos”, mas este – o da coluna de tiro – raramente é considerado quando escolhemos a “ponteira” adequada para o nosso dia de caça.

Referência ao estrangulamento

ChokeRedução do diâmetro da alma (em décimas de mm) para calibre 12Percentagem de impactos
Full choke ou choke10 a 1270%
¾7 a 965%
½5 a 660%
¼3 a 455%
Cilíndrico melhorado1 a 250%
Cilíndrico040%

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