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Um elemento estranho chamado trela

by Jesus Barroso de la Iglesia

Quantos caçadores já puseram a trela ao seu cão mais de quatro vezes em toda a sua vida? Se calhar só para irem ao veterinário e mesmo assim já é muito. O cão sai do seu sítio habitual e vai direto para o reboque ou para a caixa e, posteriormente, sai para caçar. Livre, sempre livre. Bem, se o cão nos obedece para subir e para descer do carro, então não há qualquer problema. Ou há?

Pois claro que há. A trela é a ferramenta que irá servir para ensinarmos qualquer coisa ao cão e, como tal, o cão deve conhecê‑la e estar habituado a ela porque, caso contrário, a trela será vista como um elemento aversivo desde o início. O que é que isto quer dizer? Que não vai gostar dela, que a vai tentar tirar do pescoço, e até pode nem querer comer as recompensas que lhe damos, o que fará com que possa haver um atraso na sua aprendizagem.

COMO É QUE O HABITUAMOS?

Temos, primeiro que tudo, que o habituar à trela, já que não o fizemos antes, quando devíamos ter feito. De que forma? Pois como qualquer outro hábito, procurando que associe este elemento novo e estranho a coisas positivas (no momento de lhe dar de comer, no momento da saída do canil, no momento em que vai para o reboque ou caixa…). Basta que o tenhamos um par de minutos com a trela para que se habitue, em poucos dias, e não mude o seu comportamento quando lhe metemos a trela. Desta forma, iremos fazer com que a trela deixe de ser um elemento aversivo, para se tornar num elemento “neutro” ou, inclusive, num elemento de motivação por estar associado às saídas do canil ou do espaço onde o cão vive. Podemos assim começar a educar então o nosso cão. Têm de perceber que todos, e cada um dos aspetos a melhorar em relação à caça, como por exemplo, a paragem, o patrón, o cobro, a chamada, etc., requerem um exercício prévio com o uso da trela: no “quieto” para a paragem e o patrón é fundamental o uso de uma trela, assim como na chamada, onde se consolida a aprendizagem também com a ajuda de uma trela, ou até mesmo no cobro…

TIPOS DE TRELA

Quando me encontro com alguns alunos em cursos ou seminários, aquilo que me diz quanto tempo é que cada aluno dedica ao seu cão é a trela que utilizam. Se vejo uma trela em corrente com uma terminação em couro, já sei que não dedicam nem 5 minutos por mês. Isso sim produz aversão, mas a mim próprio. O material da trela deve ser agradável ao toque (ao nosso, claro), já que iremos precisar de utilizar ambas as mãos em muitos exercícios que iremos fazer com a trela, e se não for de bom material, pode magoar‑nos. Recomendo‑vos o couro, pois se o cão der um esticão de repente, não irá deixar‑vos as mãos magoadas, como poderá fazer uma trela de fibras artificiais, que está tão na moda agora. O peso da trela deve estar de acordo com o tamanho do cão. Se temos um cão grande, como um braco ou um drahtaar, podemos utilizar as trelas de couro chamadas de trelas de treino, que têm vários mosquetões e argolas para fixar (isso leva a que sejam mais pesadas). Agora, atenção, não usem este tipo de trelas com um setter ou um bretón. O que é que isso tem a ver com o peso? Quando trabalhamos qualquer exercício com um cão, há um determinado momento em que temos de tirar a trela, e queremos que o cão haja de igual forma com a trela e sem a trela. Se esta for muito pesada, o cão irá perceber isso e, como são inteligentes, irá associar isso a quando há ou a quando não há controlo. Se a trela for leve, esta questão de ele obedecer com e sem trela será mais fácil de ser resolvida, porque o cão tem menos perceção deste elemento de controlo, ou seja, a trela.

TAMANHO DA TRELA

Se for para exercícios de obediência básica, a trela não deve ser inferior a 1,80 a 2 metros. Uma trela curta pouco nos serve para alguma coisa, pois há exercícios em que temos de nos separar do cão e, mesmo assim, conseguir manter o controlo (e isso com uma trela curta é impossível). Se temos que trabalhar exercícios específicos de caça (busca cruzada, cobros, etc.), temos de recorrer a trelas muito grandes, de cerca de 10 metros, ou trelas extensíveis nunca inferiores a 8 metros e, caso seja possível, de cordão (há de cinta, mas embrenham‑se muito mais na vegetação).

E A COLEIRA ONDE PRENDO A TRELA?

A coleira não deve ser diferente da trela, ou seja, tem de ser uma extensão da mesma. Quando é cachorro, é conveniente manter uma coleira que não magoe a pele para que se vá habituando, pouco a pouco; e isto seria o princípio da habituação à trela. Quando já estiver habituado, é igual que a coleira esteja sempre posta ou não. Deveremos utilizar dois tipos: normal de couro ou fibra e a estranguladora, seja como uma coleira simples ou utilizando a mesma trela para formar uma coleira. Os arneses são para “cães de trenó”, e não para treinar ou para ir passear um cão, muito menos um cão de caça. Por favor, leiam isto que vos escrevo e deixem de utilizar esse tipo de equipamento. Na escolha da coleira a utilizar é importante termos em conta o grau de sensibilidade do cão; se tiver uma sensibilidade alta, é preferível começar a trabalhar com coleiras normais de couro ou fibras artificiais (são cómodas), para ir pouco a pouco passando para a estranguladora, que irá proporcionar um melhor controlo quando tivermos de corrigir e aplicar a pressão necessária para cada exemplar. Já sei que em algumas sociedades, a imbecilidade imperante conquistou alguns políticos, e devido à sua falta de atitude e ignorância, aprovaram uma lei que proíbe o uso das coleiras estranguladoras. Aconselho‑vos a treinar livres de imbecis. Esqueçam as coleiras com bicos; não há nenhum exemplar que não seja dominado com uma coleira estranguladora colocada corretamente e que nenhum dano causará ao cão. Lembrem‑se que não é a espada que mata, mas sim quem a usa. A coleira de correr deve ser colocada atrás das orelhas, ou seja, na parte superior do pescoço, e deve ficar justa. Desta forma, teremos um controlo que exerceremos com a mínima força da nossa parte. Precisaremos de puxões muito leves para dominar o impulso e iremos evitar possíveis lesões na traqueia com uma coleira mal colocada.

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