Um documentário realizado em 1952, em Espanha, mostra-nos como eram feitas as batidas às perdizes naquela altura. Um vídeo a não perder, para quem gosta de caça.
Caça
Recentemente, foi publicado o livro: A Caça – História, Cultura e Recurso Sustentável, cujos autores são João Fialho de Almeida e Mário Fialho de Almeida.
Deixamos na íntegra uma entrevista realizada a João Fialho de Almeida, na sequência desta publicação. Esta entrevista foi realizado por José Serrano, e publicada no Diário do Alentejo.

Como nos apresenta este livro?
É uma coletânea de reflexões sobre momentos passados no campo e a atividade cinegética. É um livro de caça que pretende ser diferente, num registo marcadamente literário, procurando que o leitor “mergulhe” dentro das experiências e lugares descritos, no presente e no passado histórico.
Qual a relevância que a atividade cinegética tem tido na identidade das comunidades rurais do território?
É um elemento agregador das comunidades rurais – todos sentem um fascínio enorme por ver um cão a levantar uma perdiz. Faz parte das nossas tradições, une as pessoas com laços de companheirismo, os mais velhos ensinam aos mais novos e vem-se notando, cada vez mais, a presença, fundamental, do sexo feminino, especialmente em batidas.
Que peso tem a caça na economia da região?
O setor da caça, com o devido ordenamento territorial, é uma alavanca de desenvolvimento na nossa área. Para além do rendimento criado pela gestão ambiental e pela exploração das propriedades, existe um enorme movimento económico gerado com a deslocação dos caçadores, a nível da hotelaria, do comércio, da restauração e do turismo.
Há, a seu ver, uma incompreensibilidade, por parte dos cidadãos detratores da caça, acerca do que são as dinâmicas intrínsecas à “vida rural”?
A sociedade está cada vez mais polarizada. As redes sociais são câmaras de eco – em vez de haver troca de ideias apenas se reforçam certas crenças que não correspondem à realidade. Paradoxalmente, através das redes sociais, o aspeto lúdico e ecológico da caça está a voltar a ser valorizado. Encontro muitas pessoas da minha idade interessadas em conhecer mais sobre a caça e começar a praticá-la. Penso que, devido ao ambiente assético e alienante da sociedade tecnológica, os jovens anseiam voltar às raízes, contactar com a natureza.
O que é necessário implementar/legislar para que a caça seja, de facto, um recurso sustentável, passível de as gerações vindouras virem dele a fruir?
A caça tem sido um recurso sustentável ao longo da história. Tem havido períodos mais preocupantes, mas a natureza, até este momento, tem conseguido regenerar-se. Nesse sentido, destaco uma articulação mais próxima e ativa entre o Estado, legislador, e o organismo executivo (ICNF), organizações ambientalistas e a Direção Geral de Veterinária, tendo em conta o papel que a ciência tem no combate a patologias que dificultam a sobrevivência de espécies cinegéticas. É muito importante que o calendário venatório anual seja elaborado tendo em conta o feedback dos vários organismos, associações e federações de caçadores e outras entidades, para que os nossos recursos naturais sejam salvaguardados.”
“Cães bons são os de antigamente”, dizia-me há uns tempos um velho amigo que recordava uns lances do passado, com uns cães também do passado. “Aqueles cães não precisavam de nada, porque estavam o dia todos soltos pela vila; saías para a caça a andar, bastava uma palavra e lá o cão ou os cães apareciam, muitos sem raça definida. Havia tanta caça que não precisavam de mais nada a não ser caçar, não é como agora”.
Eram melhores aqueles cães? A minha reposta é que não chegam nem às “almofadas” dos nossos cães atuais. A cinofilia no mundo cinegético evoluiu, graças a deus. E em parte, a culpa desta melhoria é precisamente da escassez da caça. O declínio
da perdiz-vermelha e o auge dos caçadores de galinholas são os dois principais motivos para que se procurem melhores
cães que encontrem peças cada vez mais escassas. Quando há abundância qualquer cão encontra, mas é a escassez que
seleciona os melhores “encontradores”. Óbvio, não é? Os criadores fazem uma boa seleção das suas ninhadas, os caçadores estão mais preocupados com os seus cães, as suas origens, raças concretas… O número de sócios dos clubes de raça, por exemplo, subiu muito. O caçador está muito mais informado e formado, ou não? Tirando as origens, a seleção e a melhor genética atual, qual é a diferença dos nossos cães para os do antigamente? O interruptor.
ANTES
Sim amigos, os cães tinham um interruptor que lhes fazia caçar quando o seu dono precisava ou pedia, porque no resto do tempo andavam pela vila ou aldeia, a vaguear ou a roubar os restos de comida que encontravam. Ao chegar o dia de saírem para caçar, e lembrem-se que havia muito mais dias, iam caçar quando alguém precisava de uma lebre, por exemplo. O problema começa quando surgem os calendários venatórios, pois começa a haver restrições de dias de caça, horas, espécies, quantidade a que chamam os cupos, etc. Os cães passaram de estar soltos, a vaguear por onde queriam, a terem de ficar fechados até ao dia da abertura da temporada ou da época estival.

IRONIA
Mesmo assim, o caçador quer filhos desse cão que não aguenta, sem perceber que a mentalidade desse cão é insensata. É difícil aprenderem a caçar para a espingarda, em linguagem de caçador. Aparecem então as coleiras que dão choques para dominar esses cães insensatos, que correm e não aguentam. E já se começa a dominar os cães insensatos e agora todos querem um cão assim e uma coleira de choques. Começam a cruzar os cães insensatos com a cadela que dormita atrás de casa. Não percebem que a genética não é matemática, e apesar de ambos os progenitores poderem passar os genes, às vezes há um que passa mais que outro, e às vezes há só um que passa os genes. Se os cães insensatos tinham uma qualidade, para além dos disparates, era a dureza e a força. E era essa força que lhes dava o interruptor dos seus ancestrais; só tinham que carregar no botão e o cão caçaria durante toda a jornada.
POBRE CAÇADOR ATUAL
Está a ficar confuso; agora que tinha dominado o insensato, aparece uma nova ordem de cães sem interruptor, e não há outro
remédio se não aprender a lidar com estes novos cães. Espera, espera. Novos? Estou a dizer que nunca existiram? Não, não, claro que existiram, os “desajeitados”, mas duravam pouco. Eram outros tempos, tempos onde prevalecia “este cão não presta” ou “desfiz-me do cão”.
PARA OS CÃES SEM INTERRUPTOR
Depois desta viagem histórica em modo irónico e obviamente que em certos aspetos exagerada, quero dar-vos um conselho para os cães sem interruptor. Se tiverem a sorte de ter um cão inteligente, com facilidade de aprendizagem, com bons instintos que se vão desenvolvendo facilmente, mas com sensibilidades altas, ou seja, um animal que não gere bem o castigo
verbal e muito menos o físico, mas que associa tudo aquilo que ensinamos com relativa simplicidade; se têm a sorte de ter um exemplar assim, lembrem-se que vem sem interruptor e que não se podem lembrar que têm cão somente na abertura da temporada. Se fizerem isso, são exemplares que não vão caçar bem, não vão aguentar bem, e vai-se chatear e o cão irá perceber isso e ficará afetado (devido à sua sensibilidade apurada) e na próxima jornada caçará ainda pior, porque associam tudo (e de que maneira)… “Mas se eu não fiz nada ao cão!” Lembram-se daquele artigo que escrevi há algum tempo, que falava dos erros inconscientes? Este é um deles, pois não percebem que fizeram alguma coisa que prejudicou o vosso cão. Não são cães válidos para caçar? São sim, e muito; está provado que os cães com sensibilidades mais apuradas são os mais inteligentes, mas para o bem e para o mal. E por isso são tão fáceis de treinar, mas tão fáceis de “estragar”.
Cientistas descobrem que javalis transmitem um parasita que afeta os humanos
Uma equipa internacional de investigadores publicou um novo artigo científico na revista Veterinary Research, onde exploraram a presença e diversidade genética do parasita Blastocystis nas populações de javalis da Península Ibérica.
A investigação, realizada entre 2014 e 2021, analisou um total de 459 amostras fecais de javali recolhidas em diferentes regiões de Espanha (360 amostras) e Portugal (99 amostras). Os resultados referiram que 15,3% dos javalis estavam infectados com Blastocystis, com uma prevalência significativamente mais elevada em Portugal (34,3%) em comparação com Espanha (10%). Este parasita, transmitido por via fecal-oral, pode causar problemas gastrointestinais em animais e humanos. Além disso, foram identificados até sete subtipos diferentes do parasita, sendo o subtipo ST5 o mais comum, presente em todos os animais infetados. Este subtipo parece estar particularmente adaptado para infetar o javali, o que reforça a ideia de que esta espécie atua como um importante reservatório de infeções com relevância para a saúde pública.
O estudo salienta que os javalis em Portugal tinham não só uma maior prevalência de Blastocystis, mas também uma maior diversidade genética. Foi observada uma proporção significativa de infecções mistas, em que os animais foram colonizados por mais do que um subtipo. Alguns destes subtipos, como o ST10 e o ST14, são de particular interesse devido ao seu potencial zoonótico, o que significa que podem ser transmitidos aos seres humanos.

Segundo refere a Jara y Sedal, o subtipo ST5, comum tanto no javali como nos porcos domésticos, reforça a ideia de que estes animais podem facilitar a transmissão cruzada de agentes patogénicos entre a vida selvagem e os seres humanos. Desta forma, os autores do estudo sublinham a necessidade de implementar programas de vigilância mais abrangentes.
Os problemas aparecem quando estamos a caçar, e as pessoas ficam muito preocupadas em solucioná-los enquanto caçam.
É errado amigos: se estamos a caçar, estamos a caçar; não é altura de corrigir alguma coisa ou de treinar. Podemos é consolidar certas coisas que já treinamos nas semanas anteriores à abertura da geral.
ASPETO PSICOLÓGICO
De facto, há um aspeto psicológico que desaconselha que não façamos nada com o nosso cão enquanto caçamos. Talvez o nosso instinto de predador, chamado de “ânsia” nos faça ter prioridades nesses momentos e asseguro-vos de que o cão não
é a vossa prioridade. Abater uma peça, pô-la no colete, essa sim é a prioridade. Para fazer qualquer tipo de correção, consolidação ou simplesmente para treinar, a nossa prioridade deve ser o cão e não os músculos que trabalham para que o nosso dedo consiga premir o gatilho. Por isso, se o cão não for a prioridade, é melhor que nem façam nada, a não ser “ralhar”
por cada peça que o cão espante ou não cobre. Obviamente que falo sempre de suposições e com um tom irónico e não satírico, apesar de por vezes também se aplicar bem.
CONSELHOS SOBRE QUAISQUER PROBLEMAS
Diante de qualquer problema que tenhamos numa jornada de caça, quero dizer que o melhor que podem fazer é analisar bem e procurar uma explicação para o cão fazer aquilo que faz, porque falha onde falha. Observem bem e depois de aprenderem a linguagem canina vão perceber que foi por vossa culpa que isto aconteceu em, pelo menos, 90% dos casos.
Ok, estive a analisar bem e não vi nada, mas gravei o meu cão e percebe-se que cobra uma perdiz de asa e eu vou atrás dele e digo “cobra, lindo, muito bem, cobra, aqui…” e o cão continua a correr com a peça, e até o faz mais rápido. É muito difícil que ele me entregue, mas isso não acontece quando o treinamos no pátio lá de casa. Ok, vamos analisar esse vídeo: porque é que está a ir ao encontro do cão? Com essa atitude está a provocá-lo (você) e a fazer com que o cão o veja como um competidor. Se o seu cão, em termos de hierarquia, fosse um cão submisso, largava a peça e pouco a pouco aperfeiçoava o cobro até que isto desaparecesse, e nunca perceberia que foi por sua culpa. Mas como o seu cão é forte (falando em termos hierárquicos) ou seja, dominante, e vê a peça como algo seu, então não a solta e foge com ela. E é você que o está a incentivar a isso. O que fazemos? Durante o lance nada, porque qualquer coisa que façamos e não façamos bem, vamos piorar a situação, e mais grave ainda, haverá consequências. E vou deixar que enterre a peça ou que, inclusive, a coma? Sim claro. Se fizer alguma coisa não vai correr bem, porque o seu tom de voz vai subir, e o cão associará isso como um castigo, tendo em conta as suas sensibilidades (caráter e experiências anteriores vividas) a sua conduta vai incidir sobre uma ou outra: nesta situação em que
está zangado, pode abordar o problema ou piorá-lo, e como não estamos seguros, o melhor é não fazer nada por enquanto.
Precisa dessa peça para não morrer à fome? Não, verdade? Então é melhor não fazer nada, porque o trabalho deverá ser em
casa, porque é aí onde se fazem os deveres, fora da jornada de caça.
E vou fazer o quê em casa, se ele no pátio cobra perfeitamente? Logico, tem tudo a ver com a sua inteligência ambiental, que são produzidas pelos cães e a que nós chamamos de “associações de lugar”. Se treinam, ensinam, jogam… num mesmo lugar, esse lugar será associado a uma determinada conduta. Ao mudar de lugar e, além disso, ao elevar as motivações de uma jornada de caça (tiros, cheiros, outros cães, etc.), a associação que havia, mudou. Para solucioná-lo, devemos primeiro subir de forma gradual as motivações, ou seja treinar o cobro com pombos, com “bonecos” feitos com penas, peças congeladas, peças descongeladas e, finalmente, peças vivas (sem voar), e tudo por esta ordem. Obviamente que podem saltar fases ou fazerem-no logo com peças vivas com a asa cortada, mas se o fizerem step by step a construção será mais sólida do que se colocarem
tudo de uma vez só. Depois disso, devem mudar-se do pátio para as traseiras da casa, por exemplo, e depois até outro sítio
qualquer diferente. Devem fazer os trabalhos de casa desta forma, e no próximo dia, enquanto caçarem, verão que terão apenas de consolidar tudo isto.

OBEDIÊNCIA BÁSICA E ESPECÍFICA DE CAÇA
O problema de que falamos agora foi somente um exemplo das centenas de contatos que nos chegam todas as semanas desde que começou a época, apesar de todos terem o mesmo em comum. Querem uma solução para as coisas, em vez de terem feito os trabalhos de casa. Muita gente que treina com o seu cão, desde cachorro que lhe ensinam a obediência básica, mas mesmo assim na caça há algo que corre mal. E voltamos ao mesmo, neste caso não é às associações de lugar, mas sim a uma falha que também é muito comum. As pessoas não percebem que a obediência se chama “básica” por algum motivo, por ser a base. A base de quê? Para o que é preciso depois, e por isso agora a obediência básica não nos serve para nada durante
uma jornada de caça. É outro exemplo muito comum. O que se deve fazer depois da obediência básica ou, melhor ainda, em simultâneo: o trabalho de obediência específica de caça. Caso contrário (e outra vez) diante a subida de motivação, o cão tenderá a desobedecer quase sempre. E se preferir o prémio de uma salsicha a correr atrás de uma lebre e nos obedece é
mau sinal.
Não são muitos os que podem participar numa tradicional batida de perdizes. Primeiro porque não existem muitos locais com boa densidade de aves – mesmo de repovoamento –, e segundo porque é sempre algo dispendioso. Mas isso não quer dizer que não tenhamos a oportunidade de apanhar “pássaros de bico” ou “atravessados” atirando a partir de um posto, que pode acontecer nas clássicas e mais comuns “enxotas”. Vamos ver o que é preciso ter em conta para mandarmos cá para baixo um desses pássaros endiabrados que comem cartuchos.
Atualmente as batidas de perdizes são uma opção válida em poucas zonas de caça e raros são os locais que ainda fazem gala das tradições e costumes deste processo de caça. Basicamente, participar numa verdadeira batida é um privilégio. Em muitas zonas de caça, principalmente no Sul, é cada vez mais comum fazerem‑se pequenas enxotas para aproveitar algumas perdizes que de outra forma (a caçar de salto) dificilmente darão mão. Entre o grupo de caçadores sorteiam‑se algumas portas que colocadas em locais estratégicos tentam aproveitar os pássaros que melhor conhecem o terreno e têm as suas querenças bem estudadas. Em novembro as perdizes estão mais bem emplumadas, com mais força e autonomia, preparadas para enganar as linhas de caçadores de salto e escaparem aos tiros das portas. Mas é também a partir de agora que cada lance passa a ter um gosto diferente e o cobro de cada peça se torna em algo muito mais importante do que um simples exercício de tiro.
A entrada e os pássaros cruzados
O desafio destas perdizes, sejam numa exclusiva e clássica batida ou numa caçada mais modesta, é poder contar com todos os nossos recursos, aprendizagem e habilidade para aproveitar cada lance. Um dos erros mais frequentes é chegar ao posto e procurar uma posição que nos parece confortável sem avaliar concretamente o nosso campo de tiro, os limites e obstáculos, não procurar as zonas limpas onde podemos ver melhor os pássaros. Depois a caçada começa, entram as primeiras perdizes e… pouco tempo fica para poder corrigir ou melhorar a posição no posto. Quando não se conhece a zona de caça e as querenças das perdizes tudo fica mais difícil, por isso se torna importante a presença do secretário. Não se trata “apenas” de alguém que ajuda a carregar o estojo e a marcar as peças caídas, mas sim de uma ajuda importante para nos indicar as querenças da caça. Dessa forma ficaremos com valiosa informação para melhor nos colocarmos no posto e nos conseguirmos mover com elasticidade e eficácia nos movimentos de tiro, inclusive com elegância! Uma vez analisada a zona de tiro temos de nos ligar ao campo, procurando referências de experiências anteriores que possam ser colocadas em prática nesse momento: Como entrarão aqui as perdizes de bico? Será mais fácil aproveitar pássaros cruzados aqui… ou ali? Tenho uma grande variabilidade de distância de tiro? Onde devo limitar a rotação do meu corpo ao acompanhar o voo das perdizes?

Ganhar confiança
É esse o segredo, inclusive para os que estão mais treinados com muitos disparos nos campos de tiro em Percurso de Caça ou Compal, disciplinas de tiro que são excelentes para colocar em prática o “jogo de cintura” – o swing – e os descontos de tiro, embora agora seja preciso ajustar velocidades, que como sabemos, na caça são bastante variáveis; cada pássaro, cada lance e cada momento será diferente. A caça é assim… Optar por atirar a todos os pássaros que nos entrem a (mais ou menos) boa distância pode não ser a melhor estratégia, pois a tentativa de procurar cobrar o maior número de peças irá ocupar‑nos demasiado a capacidade de raciocínio e clarividência. Ficaremos sempre condicionados com a necessidade de cobrar mais caça e melhor – com menos tiros. Cairemos na frustração, numa predisposição negativa perante os falhanços quase contínuos e pesarão mais os erros do que os tiros bem executados, perdendo‑se assim a referência do que é verdadeiramente importante; cada lance, cada perdiz. Ir aos pássaros “seguros” permite‑nos ganhar confiança e segurança nos tiros, avaliar bem as trajetórias das perdizes e os descontos a efetuar, assim vamos avançando para os lances mais exigentes. O movimento dos pés é importante para garantir o aproveitamento da melhor rotação do corpo e assim ir às perdizes mais esquivas e rápidas. Temos que ter o encare mecanizado, preciso e ajustado.
Um desafio
Um dos postos mais difíceis é aquele que não permite acompanhar a trajetória das perdizes durante algum tempo. São os postos de “assomada”, em que as perdizes comem os poucos metros à nossa frente em frações de segundo. Nestes postos, com vegetação pela frente (por vezes uma densa mancha de pinheiros) que impede ver com antecipação a entrada das perdizes são os que põem à prova a nossa capacidade de receber os pássaros com eficácia e gerir os possíveis lances, alguns muito seguidos. Nestes postos, se o caçador está distraído ou nervoso, sem a necessária atenção e clama, as perdizes “comem” o espaço com uma rapidez incrível e, uma após outra, vão ser erradas, o que influenciará de forma direta a autoconfiança. Um terço do êxito destes postos é permanecer numa boa posição e com atenção suficiente para receber cada perdiz, com a agilidade na sequência de tiro. Não deixar passar Um dos grandes problemas; deixar passar as perdizes. Primeiro, revela que estamos lentos; segundo, será sempre um tiro desaconselhado, pois frequentemente vamos ter de fazer rotações exageradas, mudar de posição e, naturalmente, virar as costas à entrada. A trajetória das perdizes passadas pode ser complicada, não nos devemos esquecer que uma perdiz ganha muita distância em poucos décimos de segundo. E, como já referimos, como vamos atender a uma nova entrada se estivermos de costas voltadas? Para aproveitar uma perdiz passada é crucial contar com uma posição corporal que permita reagir muito rápido e muitas vezes vamos disparar com encares rapidíssimos e apenas preocupados em tapar o pássaro. Se estivermos distraídos, falando com o secretário ou olhando para o telefone, pouco podemos fazer para aproveitar os pássaros mais difíceis. E serão estes que nos ficarão para sempre na memória.
Conselhos finais
Há que otimizar a sequência de tiro e não ficar obcecado com as médias de cartuchos por peça cobrada. É fundamental permanecer em guarda média, esperando pelos pássaros e observar bem a zona de tiro, lance atrás de lance, e mesmo assim seremos surpreendidos por uma perdiz. É esta a beleza desta caça!
30 jan a 2 fev | XXVII Feira da Caça e Turismo e XXIX Festa dos Caçadores do Norte
De 30 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025, realiza-se a XXVII Feira da Caça e Turismo e a XXIX Festa dos Caçadores do Norte, em Macedo de Cavaleiros.
Este já é um evento que tem data marcada na agenda de muitos caçadores, devido à panóplia de atividades que existem, desde montarias, Falcoaria, animação cultural, a provas de cães de parar, mas ainda ao espírito de caça que se vive por esta região, tão único e peculiar. A gastronomia estará em destaque com a Rota Gastronómica do Javali nos restaurantes aderentes.
Visite este evento!
Há um ditado popular ou um refrão, como quiserem chamar, que diz “‘Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo”. No entanto, quando lidamos com cachorros não podemos apenas esperar que a divina providência os proteja, até por que são as ações dos seus donos que vão determinar o seu futuro.
Vamos começar por este exemplo. Sabem quantos cães encontramos com medo dos tiros e o dono nem sequer sabe isso? É o grande problema do caçador, não saber interpretar os sinais dos cães, não conhecer a linguagem canina. Lembro-vos que no meu livro “O caçador de estímulos” ensino a entender e a ouvir o vosso cão. Se lidamos com cachorros temos muitas probabilidades de estragá-los se não conhecermos a sua linguagem, se não conhecermos as pautas básicas do ensino, se não soubermos que os cães têm uma inteligência associativa, ou seja, necessitam de experiências para aprender coisas e necessitam que essas experiências se repitam ou não. Às vezes uma única experiência serve que para um cachorro de três meses aprenda que não se deve aproximar de uma codorniz porque o seu levante o assusta. Obviamente que para que isto
aconteça têm que haver determinadas premissas prévias, como ter altas sensibilidades auditivas e visuais, aliado ao facto de que não conseguimos construir de forma positiva essa experiência.
O QUE É CONSTRUIR UMA EXPERIÊNCIA DE FORMA POSITIVA?
É que o cachorro associe uma experiência de forma positiva. Por exemplo, se lhe meto a trela para o levar ao veterinário, é uma má experiência, e esta má experiência vai alargar-se até à trela, ou seja, a trela significa ir ao veterinário. A forma correta seria começar a pôr-lhe a trela quando lhe desse de comer, quando o levasse para passear…, para que associe o elemento
novo a experiências positivas; e isso é positivar experiências, construir experiências de maneira positiva, se preferirem assim. Se pusermos o cão no carro, onde fica maldisposto, para ir ao veterinário, a experiência começará no carro, pois é a partir desse momento que lhe estamos a causar algum dano. Claro que se meto o cão no carro e andar poucos metros, para a seguir ele ir correr e brincar com uma bola, estou a positivar a experiência de andar no carro. Desta forma, quando for
para o levar ao veterinário já não associará o carro a essa má experiência. Entendem? É simples.
NO PLANO DE CAÇA
Bem, agora vamos estender isto para aplicá-lo a qualquer outra experiência relacionada com a caça. Por exemplo, levamo-lo ao campo pela primeira vez, sempre dependendo das sensibilidades do cachorro que temos e, claro, da socialização, mas supostamente é nesse período de socialização em que nos encontramos nesta fase. Mas agora isso não conta, se não estamos a falar de muitas coisa ao mesmo tempo. Dizia então que o levamos ao campo e ele persegue passarinhos Não devemos forçar nenhuma situação de caça porque ainda não está preparado para isso, mas como temos a mania de o fazer, de pôr perdizes que voam mal num cachorro com três meses à espera que ele as pare para que possam atirar com a espingarda de calibre 12, situação que criará muitas possibilidades para que o cachorro se assuste, mesmo que de forma ligeira, o que já irá proporcionar uma má experiência que, apesar de não constituir logo o medo aos tiros, pode ficar a associar a perdiz com o ruído forte do tiro e o odor da perdiz com esse estrondo.

MOTIVAÇÃO FRENTE AO INSTINTO DO EVITAMENTO
“Não, eu não fiz nada e o meu cão não liga nenhuma às perdizes de cativeiro; claro mas isso é porque cheiram a farinha e o meu cão é muito inteligente…” Quantas vezes é que já ouviram isto? Eu, muitas! Não percebemos que há uma coisa que se chama instinto do evitamento, e é por esse instinto que um cão não pisa os cardos que picam, não se aproxima do fogo, que queima ou da água que molha; a não ser claro que a motivação seja maior que a cautela. E é disso que se trata quando que
devemos positivar as experiências; segredo está na motivação para que o instinto do evitamento não entre em cena, porque se assim for, metemos “a pata na poça” e diremos logo que nós não fizemos nada.
VEJAMOS UM EXEMPLO
Soltamos um podengo e ele pica-se numas silvas, pelo que o instinto do evitamento leva a que, da próxima vez, ao ver ou sentir as silvas tenha tendência a evitar e afastar-se. Agora levamos este pondego para uma zona coelheira e ele vê e ouve os coelhos, começa a persegui-los e a laticar, ou seja “pica-se” (tecnicamente diríamos que se motivou). Bem, agora o cachorro podengo dá “de caras” com umas silvas e lá dentro há um coelho e ele está a ouvi-lo. O instinto do evitamento diz-lhe para não entrar, que se vai picar, mas a motivação diz-lhe para entrar, porque está lá o coelho, e o podengo nasceu para isto. Como positivamos a experiência, ou seja, motivámo-lo, construímos isto previamente, o cachorro entrará dentro das silvas.
Alguém pode pensar que não fez nada disso, e que o cachorro entrou porque ouviu o coelho; sim, tudo bem, já dissemos também que depende das suas sensibilidades e da motivação intrínseca, que em alguns cães não é preciso motivar. Mas sabem qual é o problema? Que não vamos saber isso até que ele passe por este tipo de experiências.
CADA UM QUE ESCOLHA
Está nas vossas mãos, arriscar ou não arriscar, atirar a moeda ao ar e esperar que saia cara; ou então construir previamente
essas experiências que podem ser prejudiciais no futuro.
Em Espanha, a associação do setor armeiro – Federação Sectorial Espanhola de Armas e Munições – apresentou os resultados de alguns dos trabalhos de investigação realizados nesta área, procurando avaliar os reais impactos do uso de munições com chumbo na caça.
A Federação Sectorial Espanhola de Armas e Munições decidiu continuar os trabalhos de investigação de modo a avaliar:
- Os resultados analíticos das observações realizadas sobre os tecidos de exemplares analisados e comparação com
outras fontes de contaminação de chumbo, nomeadamente próximo de ambientes urbanos; - Existência de dúvidas sobre a possível existência de amostras com fragmentos de chumbo nos tecidos, sobretudo em exemplares com elevadas concentrações detetadas, mas sem sinais clínicos.
Novo estudo
Para isso, aceitando as recomendações da equipa de investigação, decidiu-se realizar um novo estudo sob o título de “Níveis hepáticos de chumbo em aves caçadas com munições sem chumbo”, em que foram analisadas aves de caça abatidas com recurso a munições com granalha de metais alternativos, avaliando as concentrações de chumbo nessas aves.
Análise em codorniz, perdiz e pombo-torcaz
Foram selecionadas três espécies de aves cinegéticas, para três extratos concretos: codorniz-comum (Coturnix coturnix), na região de Zamora; perdiz-vermelha de repovoamento, na província da Cidade Real; pombo-torcaz, em Zamora. O trabalho foi realizado com um total de 94 amostras, o que situa este estudo na linha da frente entre os efetuados na Europa. O método de abate foi a espingarda, utilizando munição sem chumbo, especificamente com granalha de aço, com o objetivo de eliminar duas possíveis fontes de erro:
- A primeira, a possível confusão no momento de determinar a origem dos bagos, descartando a possibilidade de impactos na muela, papo ou intestinos, que poderiam misturar-se com bafos ingeridos;
- A segunda, a possível contaminação de outras amostras (aves) existentes na área de estudo com chumbo.
Os resultados podem ser comparados com os obtidos em 2019. Analisando esses resultados, observa-se que a presença de bagos de chumbo “suspeitos” de ter sido ingeridos pelas amostras (aves) caçadas reduz-se significativamente em relação a 2019, aparecendo unicamente um exemplar de perdiz com bagos de chumbo na moela, com a certeza dos mesmos terem sido ingeridos. Não se encontrou nenhum exemplar com bagos de chumbo no papo. Relativamente às concentrações de chumbo no fígado, os valores encontrados podem classificar-se como muito baixos, sendo inferiores aos da bibliografia consultada.
Conclusões
Apenas 1,06% das amostras estudadas tinham uma concentração de chumbo no fígado compatível com o consumo de bagos de chumbo, um valor muito baixo e que aparece numa espécie não selvagem, a perdiz-vermelha (exemplares aclimatados
ao terreno, oriundos de criação em cativeiro) e que pode ter origem nos seus comportamentos de ingestão e alimentação.
O presente estudo realizado pela Federação Sectorial Espanhola de Armas e Munições vem consolidar as conclusões que apresentou o trabalho materializado em 2019, mostrando que:
- O uso de munições com chumbo na obtenção de amostras cujo objetivo é determinar a concentração de chumbo nessas aves mostra-se como uma fonte de erros. A partir de agora, em qualquer estudo que se realize com esse
objetivo deve descartar-se o uso de munições com chumbo para o abate e obtenção de amostras. - A percentagem da população suspeita de estar afetada pelo chumbo é irrelevante. Tal como se percebia, utilizando munições sem chumbo (aço) na captura e realizando-se o mesmo protocolo, a percentagem situa-se em redor de 1% (1,06%).
- A munição com chumbo utilizada para a caça menor pressupõe um risco mínimo no estudo de conservação das populações estudadas.
- O problema da presença de concentrações de chumbo nas aves em meio terrestre que sempre foi atribuído ao uso na caça de munições com chumbo, deve ser investigado por diferentes vias (p.e., isótopos), procurando novas fontes
de chumbo.
No dia 22 de dezembro matilheiros e apaixonados pela montaria reúnem-se para o XVI Encontro de Matilhas, numa edição especial dedicada a Valter Cadavez (Matilha Búfalo Bill).
Neste evento, que se realizará em em Vale de Salgueiro, no concelho de Mirandela, será realizada uma montaria solidária ao javali. A Câmara Municipal de Mirandela refere, numa nota de imprensa, que “este encontro é um tributo a um homem que dedicou a sua vida à defesa e promoção das matilhas, dos matilheiros e da montaria em Portugal. Valter Cadavez foi mais do que um apaixonado pela montaria; foi uma verdadeira inspiração e líder, impulsionando toda a comunidade cinegética, sempre com um espírito solidário e generoso. Nesta edição, será homenageado com a Montaria ao Javali Solidária, onde os lucros serão destinados a uma instituição de solidariedade social, em total respeito pelo espírito altruísta que o caracterizava”.
Para mais informações ou para se increver neste evento, pode fazê-lo através dos seguintes contactos: Rui Coutinho: 934 582 248; Leandro Garcia: 963 926 320.
