O título pode causar alguma confusão, pois comumente sniper está associado a alguém que efetua um disparo preciso a longa distância. Não é o caso. Por outro lado, se associarmos a mesma palavra – sniper – a “atiradores de elite”, então aqui sim, tudo bate certo! Foi isso que aconteceu, juntei-me a um grupo de atiradores de elite numa caçada às narcejas (snipes, em inglês).
No final de mais uma tarde de trabalho nas instalações de tiro em Vendas Novas que o Gonçalo Mano – responsável pelo único local que reúne a possibilidade de disparar espingardas e carabinas de caça próximo de Lisboa – me perguntou se gostaria de caçar com um grupo que no dia seguinte faria uma incursão às narcejas na Herdade da Bragança. Como gosto de caçar às narcejas fiquei imediatamente impelido a aceitar, mas, sendo uma ave que por vezes nos leva a tiros “manhosos”, procurei saber um pouco mais sobre o “grupo”. Se por um lado, pela questão da segurança fiquei descansado, saber com quem iria caçar aumentou as responsabilidades de não fazer má figura. Juntar-me-ia a uma equipa de atiradores de espingarda que já penduraram ao seu pescoço várias medalhas de tiro em campeonatos nacionais e internacionais.
A origem da palavra sniper
Mas antes de entrarmos na caçada, voltamos à origem da palavra sniper. No século XVII os soldados do Império Britânico na India faziam referência à dificuldade do tiro na caça às narcejas, uma ave que pela dificuldade em a visualizar no solo e que pelo seu voo errático enalteciam as capacidades dos atiradores que raramente as erravam. E daí até os soldados que caçavam às narcejas – snipe shooting – se tornarem uma elite não demorou muito e menos ainda abreviar para “sniping” a ação de caçar à pequena limícola. Militarmente, a palavra “sniper” apenas ficou associada à figura do soldado emboscado e preciso nos seus disparos cerca de 1820. Até então esse militar que tinha como função eliminar inimigos com disparos precisos e de elevada dificuldade era designado, na língua inglesa, por “sharpshooter” e foi partir da I Guerra Mundial que o termo “sniper” tornou-se comum para definir essa tarefa.
Uns pela lama e outros pelos combros
Preparados para o desafio, o equipamento de cada um definiu imediatamente quem iria percorrer os canteiros e quem, numa posição mais avançada, ficaria nos combros. É a melhor estratégia para caçar narcejas já bem batidas e no final da época (que terminava um par de dias depois). Os nossos companheiros de quatro patas também estavam preparados e, pelo comportamento que demonstraram, sabiam ao que vinham, não se alargando e cumprindo no cobro.
O arranque foi dado pelo Vítor Pitti que junto ao “seu” combro derrubou a primeira peça; um belo pato-real. Ou seria um pato-presidencial?
Entrados no canteiro imediatamente os pássaros começaram a levantar, mas não dando grandes hipóteses de tiro. Mas com um dia de magnífica visibilidade facilmente confirmámos que pousavam no canteiro seguinte. “Vamos com calma e passar para o canteiro seguinte.” – alguém delineou a estratégia.
Assim que entramos no segundo canteiro a cadência de tiros aumentou, principalmente pelos que estavam mais avançados no terreno. Feito mais um canteiro, foi preciso tomar algum tempo para deixar os cães cobrar uma boa dúzia de narcejas, algumas mais bem referenciadas pelo caçador outras nem por isso. Não por culpa do caçador, que até teve um grande desempenho com um par de “doubles” – sim, um par à conta do Francisco Marquito.
A manhã preencheu-se por um bom número de lances, inclusive a narcejas que levantavam na nossa frente e procurando regressar ao seu poiso de origem nos passavam bem altas obrigando a tiros bonitos.
Depois de uns anos sem caçar a esta pequena ave, esta época tive oportunidade de o fazer e, mais uma vez, ficar encantado com a dificuldade da sua caça e pelos tiros que proporciona. É isto que procuramos na caça!