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O uso do solo e o clima nos movimentos da codorniz

by Jesus Llorente

A codorniz é uma das migradoras que já moveu multidões de caçadores, hoje já não é bem assim, pois os locais com apetência para esta pequena ave são escassos.

Os campos de cultivo de cereal são o habitat ideal para a codorniz. A distribuição destes cultivos e o efeito do clima sobre os mesmos condicionará tanto a distribuição das populações de codorniz como a sua futura abundância. A guerra da Ucrânia, a crise do setor agropecuário, assim como a evolução das condições climatéricas a uma escala regional, condicionam o uso dos solos.

ESTUDOS SOBRE A ESPÉCIE
Em Espanha está em curso o “Proyecto Coturnix”, que tem a participação da comunidade de caçadores, através de federações, e de equipas de investigadores. O objetivo é avançar no conhecimento do estado de conservação da codorniz e do seu aproveitamento cinegético, construindo uma rede de acompanhamento em todo o território espanhol e desenvolvendo um programa de censos. As técnicas de aproveitamento agrícola dos terrenos também são alvo de acompanhamento deste estudo.

USO DO SOLO AGRÍCOLA EM 2023
Em Espanha cultivam-se mais de cinco milhões de hectares em cerais de outono-inverno, sendo cerca de metade dedicado a cevada. O trigo é o segundo mais importante, com cerca de dois milhões de hectares. Outros cultivos como a aveia, o triticale ou o centeio são menos representativos, se bem que a nível local podem constituir os cultivos maioritários. Quanto ao uso do solo, verificou-se em 2023 uma redução de cerca de 2% da superfície cultivada, com diminuição das áreas cultivadas com trigo (menos 6,1%) e de triticale; ao contrário, verificou-se uma subida das áreas de centeio e cevada, respetivamente
2,0% e 0,5%. Na Europa, o aproveitamento do solo para os cultivos de outono e inverno tem vindo a aumentar, com um clima mais seco e mais ameno a humidade do solo continua em níveis favoráveis. Contudo, nas regiões mais a sul os períodos de seca estival têm vindo a acentuar-se e existe uma falta de humidade no subsolo profundo. Isto não deveria ser um problema na Europa, sempre que na primavera se produza um padrão meteorológico de chuvas ativas que proporcionem a humidade necessária. Qualquer janela temporal de tempo quente e seco que se produza periodicamente durante o inverno, pode suscitar algumas preocupações quanto ao desenvolvimento dos cultivos. Por isso é importante vigiar a distribuição da precipitação durante a primavera.

NORTE DE ÁFRICA
No norte de África, área para onde emigram as codornizes que se reproduzem na Península Ibérica, não tem havido o melhor tempo de outono e inverno. O sudoeste de Marrocos continua afetado por uma seca plurianual. A falta de água nesta região deixou sem semear a maioria dos campos de trigo e cevada, sendo a rega a única forma de conseguir uma colheita. A Tunísia também luta contra a seca, embora as chuvas recentes tenham trazido algum alívio. O período meteorológico mais importante no norte da África é o compreendido entre finais de fevereiro e abril, o que sugere que ainda há tempo para que algumas das zonas de cultivo cerealífero possam receber a tempo as chuvas, mais abundantes na primavera. No entanto, existirá uma grande preocupação se as precipitações no norte de África esta primavera forem escassas.

COMO VAI AFETAR A CODORNIZ?
A seca estrutural que se instalou nos países do Magrebe (região do Norte de África) limita o desenvolvimento dos cereais e da implantação de cultivos de regadio nessa região. Tudo indica que essa situação favorecerá o movimento da codorniz para
latitudes superiores, procurando habitats mais favoráveis. Nesse caminho, poderá a Península Ibérica ser o lugar idóneo, se as
chuvas permitirem e favorecerem o desenvolvimento dos cultivos de cereal. Se isso não acontecer, as codornizes, na sua busca pelo habitat favorável, emigrarão para o centro e norte da Europa, como já aconteceu no ano passado.

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