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O tiro à perdiz de batida

by Redação

Não são muitos os que podem participar numa tradicional batida de perdizes. Primeiro porque não existem muitos locais com boa densidade de aves – mesmo de repovoamento –, e segundo porque é sempre algo dispendioso. Mas isso não quer dizer que não tenhamos a oportunidade de apanhar “pássaros de bico” ou “atravessados” atirando a partir de um posto, que pode acontecer nas clássicas e mais comuns “enxotas”. Vamos ver o que é preciso ter em conta para mandarmos cá para baixo um desses pássaros endiabrados que comem cartuchos.

Atualmente as batidas de perdizes são uma opção válida em poucas zonas de caça e raros são os locais que ainda fazem gala das tradições e costumes deste processo de caça. Basicamente, participar numa verdadeira batida é um privilégio. Em muitas zonas de caça, principalmente no Sul, é cada vez mais comum fazerem‑se pequenas enxotas para aproveitar algumas perdizes que de outra forma (a caçar de salto) dificilmente darão mão. Entre o grupo de caçadores sorteiam‑se algumas portas que colocadas em locais estratégicos tentam aproveitar os pássaros que melhor conhecem o terreno e têm as suas querenças bem estudadas. Em novembro as perdizes estão mais bem emplumadas, com mais força e autonomia, preparadas para enganar as linhas de caçadores de salto e escaparem aos tiros das portas. Mas é também a partir de agora que cada lance passa a ter um gosto diferente e o cobro de cada peça se torna em algo muito mais importante do que um simples exercício de tiro.

A entrada e os pássaros cruzados

O desafio destas perdizes, sejam numa exclusiva e clássica batida ou numa caçada mais modesta, é poder contar com todos os nossos recursos, aprendizagem e habilidade para aproveitar cada lance. Um dos erros mais frequentes é chegar ao posto e procurar uma posição que nos parece confortável sem avaliar concretamente o nosso campo de tiro, os limites e obstáculos, não procurar as zonas limpas onde podemos ver melhor os pássaros. Depois a caçada começa, entram as primeiras perdizes e… pouco tempo fica para poder corrigir ou melhorar a posição no posto. Quando não se conhece a zona de caça e as querenças das perdizes tudo fica mais difícil, por isso se torna importante a presença do secretário. Não se trata “apenas” de alguém que ajuda a carregar o estojo e a marcar as peças caídas, mas sim de uma ajuda importante para nos indicar as querenças da caça. Dessa forma ficaremos com valiosa informação para melhor nos colocarmos no posto e nos conseguirmos mover com elasticidade e eficácia nos movimentos de tiro, inclusive com elegância! Uma vez analisada a zona de tiro temos de nos ligar ao campo, procurando referências de experiências anteriores que possam ser colocadas em prática nesse momento: Como entrarão aqui as perdizes de bico? Será mais fácil aproveitar pássaros cruzados aqui… ou ali? Tenho uma grande variabilidade de distância de tiro? Onde devo limitar a rotação do meu corpo ao acompanhar o voo das perdizes?

Ganhar confiança

É esse o segredo, inclusive para os que estão mais treinados com muitos disparos nos campos de tiro em Percurso de Caça ou Compal, disciplinas de tiro que são excelentes para colocar em prática o “jogo de cintura” – o swing – e os descontos de tiro, embora agora seja preciso ajustar velocidades, que como sabemos, na caça são bastante variáveis; cada pássaro, cada lance e cada momento será diferente. A caça é assim… Optar por atirar a todos os pássaros que nos entrem a (mais ou menos) boa distância pode não ser a melhor estratégia, pois a tentativa de procurar cobrar o maior número de peças irá ocupar‑nos demasiado a capacidade de raciocínio e clarividência. Ficaremos sempre condicionados com a necessidade de cobrar mais caça e melhor – com menos tiros. Cairemos na frustração, numa predisposição negativa perante os falhanços quase contínuos e pesarão mais os erros do que os tiros bem executados, perdendo‑se assim a referência do que é verdadeiramente importante; cada lance, cada perdiz. Ir aos pássaros “seguros” permite‑nos ganhar confiança e segurança nos tiros, avaliar bem as trajetórias das perdizes e os descontos a efetuar, assim vamos avançando para os lances mais exigentes. O movimento dos pés é importante para garantir o aproveitamento da melhor rotação do corpo e assim ir às perdizes mais esquivas e rápidas. Temos que ter o encare mecanizado, preciso e ajustado.

Um desafio

Um dos postos mais difíceis é aquele que não permite acompanhar a trajetória das perdizes durante algum tempo. São os postos de “assomada”, em que as perdizes comem os poucos metros à nossa frente em frações de segundo. Nestes postos, com vegetação pela frente (por vezes uma densa mancha de pinheiros) que impede ver com antecipação a entrada das perdizes são os que põem à prova a nossa capacidade de receber os pássaros com eficácia e gerir os possíveis lances, alguns muito seguidos. Nestes postos, se o caçador está distraído ou nervoso, sem a necessária atenção e clama, as perdizes “comem” o espaço com uma rapidez incrível e, uma após outra, vão ser erradas, o que influenciará de forma direta a autoconfiança. Um terço do êxito destes postos é permanecer numa boa posição e com atenção suficiente para receber cada perdiz, com a agilidade na sequência de tiro. Não deixar passar Um dos grandes problemas; deixar passar as perdizes. Primeiro, revela que estamos lentos; segundo, será sempre um tiro desaconselhado, pois frequentemente vamos ter de fazer rotações exageradas, mudar de posição e, naturalmente, virar as costas à entrada. A trajetória das perdizes passadas pode ser complicada, não nos devemos esquecer que uma perdiz ganha muita distância em poucos décimos de segundo. E, como já referimos, como vamos atender a uma nova entrada se estivermos de costas voltadas? Para aproveitar uma perdiz passada é crucial contar com uma posição corporal que permita reagir muito rápido e muitas vezes vamos disparar com encares rapidíssimos e apenas preocupados em tapar o pássaro. Se estivermos distraídos, falando com o secretário ou olhando para o telefone, pouco podemos fazer para aproveitar os pássaros mais difíceis. E serão estes que nos ficarão para sempre na memória.

Conselhos finais
Há que otimizar a sequência de tiro e não ficar obcecado com as médias de cartuchos por peça cobrada. É fundamental permanecer em guarda média, esperando pelos pássaros e observar bem a zona de tiro, lance atrás de lance, e mesmo assim seremos surpreendidos por uma perdiz. É esta a beleza desta caça!

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