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Aperfeiçoar o tiro | O javali em corrida

by Redação

Tanto a montaria como as batidas têm uma dificuldade acrescida em relação às restantes modalidades de caça maior: o tiro a reses em movimento! Mais do que um “simples movimento”, muitas vezes trata-se mesmo de corrida, por isso há que adiantar o tiro – em muitas situações – e não parar a mão, se desejamos cobrar a rês. Mas antes de nos adiantarmos especificamente no “quanto temos de adiantar”, vamos ver alguns conceitos fundamentais sobre a técnica de tiro que deve ser utilizada sobre reses em movimento.

Texto: @Ramón.Fitó
Fotos: Shutterstock e autor

máxima aspiração para um grande número de caçadores é poder cobrar um navalheiro que entre a “100 à hora” no posto. A emoção, a descarga de adrenalina e o feito de alcançar com um tiro certeiro tal troféu, são sem dúvidas motivos que nos fazem compreender tal desejo. No entanto poucos dos que têm essa aspiração já pensaram um pouco sobre que técnica de tiro devem utilizar no momento desse acontecimento. O que não nos surpreende, pois assim que passamos os Pirenéus para a nossa Península, parece que encontramos caçadores que já nasceram ensinados para tudo! E mais, nem sequer nos vamos lembrar de dizer que é preciso praticar. Sim, praticar tiro, gastar munições contra um alvo de papel. Também é verdade que é impossível encontrar locais onde se possa praticar o tiro com carabina a alvos em movimento. Contudo, um caçador responsável e consciente tem como obrigação utilizar com segurança, destreza e habilidade as suas armas de fogo, e por isso deve praticar (da forma possível) de modo a não só ser eficaz nos seus disparos como também a garantir a segurança de todos os que o rodeiam, e nas caçadas coletivas, como a montaria e batidas, são muitos os presentes.

Análise do equipamento

Seja para caçar ao javali ou qualquer outra espécie é imprescindível analisar o equipamento a utilizar. É curioso como muitos caçadores nem sequer pensam nisso e, na minha opinião, o facto de utilizarem equipamento desadequado é o principal motivo de muitos tiros errados. Começaremos por perceber que colocar uma espingarda à cara não é o mesmo que fazêlo com uma carabina. Pela sua configuração, uma espingarda está idealizada para um encare rápido, para um disparo intuitivo e possibilidade de repetição do tiro imediata. Tal como acontece com as carabinas de tipo Express, que oferecem o mesmo tipo de sensações. Quando pegamos numa carabina de ferrolho ou semiautomática – as mais comuns – começam a surgir os “problemas” se queremos apontar da mesma forma como uma espingarda. “Problemas” que se agravam quando as carabinas estão equipadas com aparelhos óticos. A ergonomia é a ciência que se encarrega do estudo das máquinas, ferramentas, móveis e todo o tipo de utensílios às pessoas, de modo que se alcance uma maior comodidade e eficácia no momento de utilizar e manejar esses equipamentos. O que há que entender sobre a ergonomia é que não somos nós que nos devemos adaptar ao equipamento, mas sim este que tem de ser adaptado a nós, ou melhor, deve ser uma “extensão” do nosso corpo. Para que possamos ter uma arma adaptada às nossas características pessoais é importante ter em conta três pontos básicos: Primeiro. Devemos olhar para o tamanho da coronha, que nos pode estar curta ou comprida. Conseguir uma boa coronha é essencial para efetuar um encare rápido, ágil e intuitivo, e inclusive para controlar o recuo. Como se confirma de um modo básico que a coronha tem o comprimento adequado? Basta pegar na arma e levantá-la com o braço que controla o gatilho e fazer um ângulo de 90 graus, apoiando o couce entre o antebraço e o braço. Se a Um caçador responsável e consciente tem como obrigação utilizar com segurança, destreza e habilidade as suas armas de fogo, e por isso deve praticar coronha tiver a medida adequada conseguirá sem problema controlar o gatilho. Se não chega com a falange do indicador ao gatilho é porque a coronha está comprida, se sobra “dedo” então está curta. Alterar o comprimento da coronha numa arma moderna é uma tarefa simples, que pode ser realizada trocando o calço de couce por outro de espessura diferente. Segundo. Agora com a arma encarada. A ideia é encarar a arma com os olhos fechados e de forma rápida. Temos que meter o alvo no retículo da mira ou no ponto-vermelho. O que acontece frequentemente é ficarmos com a cara muito baixa (crista da coronha baixa ou montagens do equipamento ótico muito altas), mas para isso também há solução, que pode passar por um acrescento à crista ou inclusive pela montagem de uma crista regulável (hoje é fácil encontrar kits para esse efeito, ou recorrer a um bom armeiro). Terceiro. A ótica e montagens adequadas vão ter muita influência no processo de encare e pontaria. Da correta escolha dependerá a rapidez de encare e enquadramento com o alvo, assim como a possibilidade de dobrar o disparo.

O swing, correr a mão…

Este é o movimento essencial para conseguir alcançar uma peça de caça em movimento. Disparar a reses em movimento não é fácil e obriga a que nós consigamos acompanhar esse movimento com o dito swing. Grande parte do êxito de um tiro em montaria radica em saber executar um swing estável e consistente. Entendemos o swing como o movimento do corpo com a arma. Existem duas formas de executar o swing: apontar à frente da rês, com o desconto estimado, ir acompanhando o movimento de deslocação da mesma e disparar; ou vir de trás, acelerar o movimento até chegar ao ponto de desconto estimado e disparar. Este último será o mais utilizado. Executar um bom swing é fácil se tivermos prática e entendermos o que se pretende: uma vez localizada a rês, procedemos ao encare da arma subindo-a ao ombro ao mesmo tempo que o cano acompanha o alvo; efetuado o bom encare, damos início ao acompanhamento da peça de caça (o swing) até chegar ao ponto de contacto; nesse momento, aceleramos o movimento e ultrapassamos o alvo, dando o desconto de tiro necessário e efetuamos o disparo sem nunca parar o movimento (sem deixar de “correr a mão”). A prática dá-nos confiança e uma das melhores formas de treinar é primeiro efetuar disparos a alvos estáticos para melhorar o encare. Depois de termos um encare consistente, direcionado ao alvo intuitivamente, podemos treinar o swing “a seco”, simulando o movimento de acompanhamento da peça de caça.

Zona de morte de um javali

O javali é um animal astuto e resistente, a sua anatomia converte-o numa peça de caça “dura” de cobrar. Na caça o mais importante é o local de impacto do projétil e ao mesmo tempo o tipo de bala (projétil) que utilizamos. Todos temos conhecimento de quais são os órgãos vitais a alcançar num tiro em movimento (coração e pulmões), o típico tiro à espádua (codilho). No entanto, convém recordar que esta zona não é muito grande e até é de difícil localzação devido à densa pelagem do animal. No entanto, com um tiro no coração um javali pode percorrer 200 metros e pode tornar-se uma rês difícil de cobrar devido à orografia e vegetação do terreno. Uma boa prática será o tiro um pouco mais alto, de modo a quebrar o osso das patas dianteiras. Será um tiro “ao codilho alto” que tem como objetivo impedir a locomoção do animal. Esse “ponto” encontra-se na linha do olho e acaba um pouco antes do meio do animal. Apontando desta forma temos algumas vantagens:

• A primeira é que a zona alvo é muito maior;

• A segunda é que, ao ser de maior dimensão, dá-nos também maior margem de erro no cálculo do desconto; E a terceira (e melhor) é que o javali, uma vez alcançado, não conseguirá correr muita distância, tornando o cobro muito mais fácil.

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