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Em Marrocos com cães de parar: Galinholas, codornizes e perdizes

by Pedro Vitorino

Marrocos já é um destino conhecido para os caçadores portugueses, mas quando se fala neste país africano ouve-se “caça às rolas”. Pois bem, Marrocos tem muito mais e alguns “segredos” por descobrir.

Não é que não goste de caçar às rolas, mas os programas de dois ou três dias de caça monotemáticos não me atraem como algo que me dê a possibilidade de variar o tipo de atividade. Por esse motivo, Marrocos tinha ficado de lado, até agora.

De salto e com cães de parar

Foi assim que começou a descrição de Gonçalo Mano, da Vidigal Hunting, sobre o programa de caça em Marrocos que me propôs: “Vamos caçar de salto e com cães de parar”. Foi o suficiente para me deixar a ouvir o restante da proposta. O plano seria fazer um programa diverso, com três dias de caça a outras tantas espécies diferentes: galinholas, no primeiro dia; codornizes, no segundo; e para terminar (em beleza!), um dia de caça à perdiz “Gambra”. Para quem, como eu, gosta de “variar”, o programa de caça não podia ser melhor. O próximo passo foi encontrar datas, algo sempre muito complicado para mim e apenas seria possível em fevereiro, ao que fui avisado: “É o final da época, já com as migradoras em viagem…”. Não há outra possibilidade, por isso, assumi o risco.

Perto e bom caminho

Por vezes, os preços dos voos acabam por condicionar alguns programas de caça, além de que, no meu caso, a duração da viagem também já me deixa a pensar. Viajar de avião enfada-me cada vez mais. Marrocos é precisamente aquilo que chamamos de “perto e bom caminho”, uma hora e meia de voo no trajeto Lisboa-Marraquexe. Perfeito! O bom tempo que mesmo em fevereiro fazia nos locais onde iríamos caçar também não obrigou a preparar qualquer tipo de equipamento específico, roupa para caçar em “meia-estação”, aquilo que chamamos “nem frio, nem calor”.

Galinholas com o homem dos pointer

Já tive oportunidade de caçar às galinholas em diversos países, desde as Ilhas Britânicas, passando pela Escandinávia, até aos países de Leste. Num comentário a uma das minhas publicações nas redes sociais, um amigo caçador afirmava: “caçar galinholas sem os meus cães, não me satisfaz”. Acredito que assim seja, principalmente para os aficionados desta caça. Também eu confesso que os lances mais intensos vividos com o meu fiel companheiro de quatro patas têm um “sabor” diferente, mesmo não sendo um verdadeiro aficionado da caça às galinholas – prefiro terrenos com mais largueza… Um dos pontos que considero mais importante num programa deste tipo, de caça de salto, particularmente com cães de parar, é a qualidade dos cães. Este “detalhe” pode fazer toda a diferença e posso dizer que em Marrocos tive a oportunidade de ver caçar duas (cadelas) pointer simplesmente “bombásticas”. O nosso guia foi Khalid Pointerman, um caçador marroquino apaixonado (fanático!) pela caça à galinhola e com cães fantásticos.

Olhando para a paisagem onde começamos o primeiro dia de caça, não fossem as palmeiras-anãs, diria que estava no Alentejo, uma extensa área de sobreiros novos, sargaços e de vez em quando um silvado. O terreno levemente ondulado permitia aos cães caçarem com laços bem extensos e com uma velocidade impressionante! Acreditem, era difícil de acompanhar só com o olhar, quanto mais pensar caçar ao pé destes pointer. Coloquei em dúvida a eficácia de tal rapidez, tínhamos uns cinco minutos de caça, quando em terreno passado pelos cães me saltou uma galinhola aos pés, à qual não atirei. Khalid chegou ao pé de mim e agradeceu. Estávamos apresentados! Não demorou a termos a primeira oportunidade, uma das pointer deu sinal e… estancou! A outra efetua um patrón perfeito! Posiciono-me… dá-se o levante, deixo voar o pássaro e… à ordem arranca a pointer para o cobro. E tenho a minha primeira “Dama dos Bosques” africana nas mãos. A minha caçada estava concluída. Tenho esta mania, quando tudo está perfeito… fica assim! Mas para os meus companheiros a caçada continuou conseguindo-se praticamente uma dezena de levantes durante a manhã, com algumas cobradas, claro.

A tarde seria passada a caçar num terreno completamente diferente, com estevas altas, sobreiros dispersos e nas baixas uns sargaços. Mais uma vez, parecia estarmos em casa, numa zona mais difícil de caçar e de assistir aos cães, caça-se ao som dos beepers, como também acontece em muitos locais por aqui. Confesso que já visitei locais com maior densidade de pássaros – na Escócia e em Gales – mas a experiência de caça em Marrocos é incomparavelmente mais agradável, principalmente pelo clima (nada de “goretexes”) e pela qualidade dos cães que nos proporcionaram lances incríveis.

Codornizes

Segundo dia. Deslocámo-nos a uma zona de arroz, com mais de 16.000 hectares, conforme nos informou Mehdi Oualid, responsável pela empresa TL Chasse, o parceiro marroquino da organização portuguesa Vidigal Hunting. São campos que depois da colheita do arroz estão cobertos de luzerna, agora já em condições de corte. Este era o último dia de caça à codorniz do calendário venatório, portanto Mehdi pediu-nos para não colocarmos as expetativas muito altas. Mais do que quantidade, preferimos qualidade. E tivemos. Impressionou-me o profissionalismo dos guias e a qualidade dos seus cães, bem tratados e apresentados, a caçar a preceito. Desta vez tínhamos setter, breton e um braco. O trabalho dos cães estava dificultado pela altura da luzerna e as codornizes, bravas e “ratas”, como sabemos, davam baile aos cães… e aos caçadores… Talvez o trio de espingardas não tenha estado no seu melhor… A melhor época para a “pequena africana” será dezembro e pode ser combinada com as narcejas. Já apontei na agenda!

Perdiz “Gambra”

A paisagem, mais uma vez, mudou radicalmente. Estávamos numa vasta área coberta por palmeiras-anãs, recortada por alguns campos de cereal e com um “oued” (leito de rio seco) ao fundo. Mais uma vez, acompanhados pelos voluntariosos guias e os seus magníficos cães. Não me canso de referir este “detalhe”, pois acreditem que marcou a diferença nesta viagem, tanto pela qualidade como beleza dos exemplares. A perdiz Gambra (Alectoris barbara), ou perdiz-moura, é endémica do Norte de África, e é um dos ex-libris da caça em Marrocos, principalmente no Rife de Marrocos, as montanhas da região norte do país, embora possa ser encontrada em diferentes tipos de habitat.

Desta vez caçamo-las cá mais em baixo. Rapidamente demos conta do comportamento mais gregário desta perdiz africana, a andar mais embandada e a “agarrar-se” mais, o que deu paragens fabulosas aos cães. Ao arranque soam os guizos das asas, como as nossas. É uma ave magnífica, como o são todas as perdizes, a diferença de coloração das penas e a paisagem exótica onde caçamos tornaram o momento especial.

Regresso marcado!

Facilmente coloco Marrocos no primeiro lugar dos destinos internacionais de caça de salto, por diversos motivos. Aqui tão perto, este país do Norte de África permite-nos caçar como muitos de nós caçaram durante anos, descontraidamente, de salto com cães de parar e com suficiente abundância de caça. Acredito que não será um país para “bater records” nem nas galinholas, nem nas codornizes e nem sequer nas perdizes, que têm limites de captura rigorosos.

Como já referi, a qualidade sobrepõe-se à quantidade. Tivemos dias muito divertidos, sempre a ver caça, com bom tempo, boa comida e bastante descontraídos. Já coloquei na agenda o regresso em dezembro!

A perdiz “Gambra”
A perdiz-moura é localmente denominada de perdiz “Gambra”. Trata-se de uma ave do género Alectoris (Alectois barbara) endémica do Norte de África. Tem um tamanho médio entre 32 a 34 centímetros, uma envergadura de 46 a 49 centímetros e um peso entre 400 e 750 gramas. Em média será ligeiramente maior do que a perdiz-vermelha. Podemos dizer que tem uma plumagem muito idêntica à nossa perdiz, mas com um padrão diferente na cabeça e pescoço. Tem um comportamento ainda mais gregário que as nossas “vermelhudas”, sendo frequente formarem bandos com mais de 50 indivíduos, que podem chegar a 100, que se tornam menos numerosos no início da primavera, quando se dá a formação de casais. Para alimentação procura essencialmente gramíneas, embora os insetos também façam parte da sua dieta. Habita essencialmente em zonas abertas, secas e com boa exposição solar, que podem ir de áreas a maior altitude, em montanha, mas também prados e margens de zonas florestais. Atualmente tem um estatuto de conservação “Pouco preocupante”.

Nome árabe: H’jal

Programa de caça
Passamos os cinco dias em Marrocos – três de caça – na companhia de Gonçalo Mano, responsável pela Vidigal Hunting que proporciona este programa de caça de salto, além dos já habituais programas de caça às rolas e também de javalis!
O conhecimento dos destinos é sempre um ponto fulcral para qualquer organização de caça e aqui Gonçalo tem um “trunfo”, a sua esposa Sanae Amari, natural de Marrocos, que com o seu vasto conhecimento local coloca tudo a funcionar a perfeição.
Há diferentes tipos de alojamento disponíveis, desde o hotel de luxo a uma moradia junto ao oceano, como foi o nosso caso, com espaço para os cães e onde podemos viver uma verdadeira experiência marroquina, com refeições tradicionais.
Também é possível viajar com os cães de caça (o processo de entrada é simples), seja por avião ou em viatura, pois Marrocos não está assim tão longe. A organização fornece as armas e munições, evitando as sempre morosas démarches alfandegárias.

Mais informações pelo telefone 966 225 665 ou pelo e-mail [email protected]

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