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Vamos escolher a “nossa” raça de cães de parar

by Jesus Barroso de la Iglesia

Neste espaço já abordamos por várias vezes as características de cada uma das raças de cães de parar, inclusive sobre quais as que melhor se adaptam a determinados tipos de terreno e formas de caçar. Contudo, a escolha do “nosso” futuro cão, a sua raça, nunca é fácil; a coisa complica-se, porque há tantas variáveis que podem influenciar isto como raças. Não obstante, iremos tentar analisar um pouco este tema, ou seja, vamos generalizar, mas não seguir isto “à risca”, porque trata-se apenas de uma análise superficial que pretende somente ajudar, na medida do possível, os novos caçadores.

A raça a escolher, a “nossa”, a melhor, não só irá depender do tipo de terreno que habitualmente caçamos, como também dos gostos do caçador, da sua capacidade, dos seus conhecimentos cinófilos, do seu estado físico, etc. E por isso irei aconselhar a que procurem uma raça de cães de parar não apenas devido a uma caraterística, como é o habitual e pensando que basta isso. No dia a dia, vemos muitos caçadores que andam pelo terreno a dizer mal dos seus pointers porque se afastam demasiado, ou dos seus setters porque os ignoram, ou dos seus bretons porque são demasiado nervosos ou dos seus bracos porque recuperam todas as peças, mas não as trazem e fogem com elas. Depois há sempre o momento em que já andam desaustinados porque ainda não viram o cão parado sobre nenhuma perdiz, achando então que isso se deve à bravura dos pássaros. E se eu vos disser que para um cão é mais difícil parar sobre uma codorniz selvagem do que sobre uma perdiz selvagem? Agora começam os argumentos típicos de porque é que param a umas e a outras não, mas para os quais eu tenho uma resposta muito simples: por culpa da ignorância do dono.

QUEM QUISER…

Quem quiser um pointer ou um setter para caçar perdizes, deve ser consciente não só das suas paragens lindas e espetaculares, mas também de que são raças com muita paixão, que se irão afastar à procura das perdizes porque perto do caçador elas não estão. São raças independentes, que têm como objetivo encontrar a peça de caça, ao invés de estarem “penduradas” naquele que leva a espingarda. Requerem, por isso, uma educação e posterior treino para os conseguir adaptar, para que formem um binómio conosco, mas cuidado, adaptar não é cortar, ou seja, não queremos que cacem debaixo dos nossos pés, porque isso não é caçar e para estas raças isso é quase “morrer”. Aquele que quer um breton, deve começar por saber que estamos diante da raça continental mais rápida; não se alongará tanto como um pointer ou um setter, mas irá alongar a sua busca. Não terá essa independência tenaz dos britânicos, mas com perdizes à frente, estes pequenos diabos por vezes parecem autênticos britânicos. Às vezes? Pois claro, as linhas genéticas e a exemplaridade de cada individuo também levam a que haja bretons mais apaixonados do que outros, como em todas as raças. Aquele que queira um braco alemão, um perdigueiro, um pachón, um visla, um weimaraner… que tenha a consciência de que não vêm de série como os livros e os artigos específicos sobre cada raça gostam de dizer. Um braco não cobra perfeitamente se não trabalharmos o cobro, um perdigueiro não será esse magnifico companheiro se não partilharmos tempo suficiente com ele, porque para haver cumplicidade são necessários dois fatores: tempo e experiências conjuntas, como em qualquer raça. Como disse sempre, a raça é só um mapa, que nos indica uma série de qualidades comuns, mas há que ter presente a exemplaridade de cada individuo. Não escolham um cachorro pela sua cor, nem um tipo de raça por vos parecer mais bonita, ou que cobra melhor ou que faça paragens espetaculares. Para escolher a raça ideal para nós é preciso ter em conta muito mais coisas, tal como vimos anteriormente.

PARA AQUELES QUE ESTÃO AGORA A COMEÇAR

Estou sempre à espera de que estes meus artigos cheguem aos caçadores jovens, até porque com as velhas guardas pouco tenho a dizer ou a ensinar. Quem é que consegue mudar mentalidades que tiveram aqueles perdigueiros que faziam lances curtos na época gloriosa de perdizes, quando qualquer “Bobby”, filho da “Chispa” e do “Zeus”, era bom para a época estival, quando se escolhia um cachorro pela cor ou porque eram de raça pura (não se sabia qual, mas era puro), ou quando o cão se avaliava somente pelo peso do cinto do final da caçada. Aqueles caçadores que estão agora a começar, que pensam que tudo é relativo e que não procuram uma raça para conseguirem apenas uma boa quantidade de peças, mas sim um cão de uma raça concreta que os ajude a desfrutar (o número de peças abatidas é secundário). Como? Podemos desfrutar da caça sem pensarmos no número de peças abatidas? Digo sempre o mesmo: o lance é algo que se desfruta mais na memória do que na vivência. Essa perdiz que o nosso cão parou e que dela falamos, provocando- nos uma emoção enorme no momento, será uma grande recordação de um lance inesquecível, que nunca mais esqueceremos. Nesta vida, tudo depende de pequenos detalhes, e trata-se simplesmente de sabermos valorizá-los, na medida mais adequada.

ÚLTIMAS NOTAS

E não, não sou adepto da austeridade, somente da coerência, do sentido comum. Como é que se desfruta mais; matando quatro perdizes levantadas por outros companheiros ou uma, mas parada pelo nosso cão? Cada um o saberá, mas está claro que aquele que achar que desfruta mais das quatro perdizes levantadas pelos companheiros, jamais terá um bom cão de parar, isso posso assegurar-vos.

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