A resposta correta seria feita através de outra ou outras perguntas. A quem? De que forma? Os cães aprendem por imitação? Vou tentar esclarecer algumas destas questões, que muitos acreditam já saber, ainda que a maioria esteja enganada.
Há relativamente pouco tempo descobriu‑se que os seres humanos, os primatas, os mamíferos marinhos e sim, também os cães, tinham uns neurónios chamados “neurónios espelho” responsáveis, entre outras coisas, pela empatia e pela imitação.
Tanto assim que, por exemplo, as pessoas com diagnóstico de autismo têm uma carência destes neurónios. Por isso, é óbvio que se os cães também têm este tipo de neurónios, são então capazes de criar empatia e de imitar. A questão de criar empatia já sabíamos há muito, mas a questão de imitar, nem por isso. Mas, o que é que os cães imitam? Os cães podem imitar comportamentos, condutas e ações que vêm o ser humano e outros cães a fazer. Mas tenho más notícias, porque
apesar de um cão ser capaz de imitar não quer dizer que tenha a capacidade de aprendizagem por imitação.
A APRENDIZAGEM DOS CÃES É UM PROCESSO DE ASSOCIAÇÃO
Podem‑se condicionar associações para ensinar ao cão as condutas que queremos que ele faça; era aquilo a que chamaria aprendizagem por modelação”, um encadeamento de associações que o levam a aprender determinadas condutas que nós queremos. Desculpem, mas não podemos ensinar nada a um cão somente por imitação, já que a sua capacidade de imitação é seletiva. Ou seja, pode aprender através da imitação, mas não porque o ensinam. Como é que isto é possível? Se o cão pudesse ser ensinado através da imitação, bastaria tirarmos um cão já treinado e experiente e demonstrar o que é que este cão aprendiz tinha de fazer. E sabemos que isso não funciona, certo?
CORRENTES MODERNAS
Há correntes modernas que confirmam a aprendizagem por imitação; existe até um método e até se dão várias palestras, apesar de a única coisa que eu vejo é uma cambada de intrujões. Se alguém já teve a oportunidade de ver o método de aprendizagem por imitação e sabe alguma coisa sobre treino de cães e condicionamentos, então perceberá que todos os exercícios que fazem são aprendidos por associação, e não por imitação. Ou seja, ensinam os cães a imitar através de associações que condicionam previamente. É só isto, o resto é tudo aldrabices, amigos. É como aqueles que nos mostram
os vídeos de um cão que têm e que sabe contar, e lhe dizem “Toby, quanto é que são 3+2? E o “Toby” ladra cinco vezes. Aquilo que ensinaram ao cão foi a ladrar à ordem. E essa ordem é um movimento subtil de um dedo, algo totalmente
impercetível para quem está a ver, e que centra a sua atenção na capacidade do animal. Portanto, é o dono do “Toby” que lhe dá a ordem para ladrar cinco vezes. O método de treino por imitação é algo parecido; trata‑se de condicionar o exercício do
“senta” com um gesto de mim a sentar‑me; ou seja, em vez de o fazer dizendo “senta” ou levantando uma mão, faço‑o
através de um seguimento: começo por levantar um dedo e vou continuar a somar estímulos até chegar à associação: “se eu me sentar, tu também te sentas”, e isto levará a que o cão me “imite” …
ENTÃO O QUE É O PATRÓN?
Tenho a certeza de que há alguém já a pensar nisto. Os cães que vêm outros cães a parar e fazem patrón, não o imitam? Claro que sim, é uma conduta que acontece devido à empatia, aos “neurónios espelho”, mas em poucas ocasiões.: se eu vejo outro cão parado significa que há ali uma galinhola. Se eu trabalho o patrón a um cão porque ele não o faz, não o vou conseguir fazer através da imitação, mas sim através da associação de estímulos e junção de exercícios como o “quieto” +
a visão do outro cão parado + o cheiro da codorniz. Na maioria dos casos os cães aprendem a fazer patrón através
da experiência, ou seja, por associação.
O LADRAR É CONTAGIOSO
Essa afirmação, muito comum e correta, leva muita gente a confundir‑se. Se um cão está a ladrar no seu canil, o resto dos cães irá fazer o mesmo, e em coro; e todos já o pudemos comprovar em algum momento. Isso é ladrar por imitação? Não,
chamam‑se condutas por contágio, como os cães que latem convulsivamente, ou os cães que só estão tranquilos quando os levamos à trela e, claro, se pusermos ao seu lado um companheiro que não está educado, pode acabar por contagiar aquele cão que já está educado. É curioso que o cão que não está educado jamais se irá contagiar pelo outro, o bem‑educado,
não é?