A caça maior pelo processo de aproximação conta cada vez com mais adeptos. É verdade que ainda damos os primeiros passos nesta modalidade de caça, mas o aumento das populações de cervídeos, principalmente do veado, tem mostrado a muitos caçadores uma nova forma de caçar; a pé, atrás da presa selecionada.
Texto: Redação
Fotos: Arquivo e Shutterstock
1. A roupa
A roupa deve ser ligeira, de maneira que nos permita movimentar com facilidade e, simultaneamente, proteger do frio matinal. Não pense que os dias amenos permitirão caçar em mangas de camisa. Mesmo em pleno Verão as manhãs podem ser bem frescas e não devemos esquecer que temos de estar no campo bem cedo, antes do sol se avistar no horizonte. É sempre conveniente levar uma peça de vestuário mais quente, mesmo que não a utilizemos durante a maior parte da caçada. Outra recomendação importante é que as peças de vestuário a utilizar no tronco sejam em material transpirável, eliminando o suor que se produz ao caminhar, mantendo‑nos sempre secos. Os mesmos critérios devem ser utilizados na escolha das calças. Outro aspeto muito importante será a faculdade dessas peças de roupa não produzirem ruído ao caminharmos. Temos que escolher vestuário silencioso, que produza o menor ruído ao roçarmos na vegetação. A oferta é bastante ampla, sendo possível encontrar bom vestuário para caçar a preços acessíveis.
2. As botas
Embora nem sempre tenhamos que efetuar grandes caminhadas, há que ir preparado para percorrer uma longa distância. Por isso o calçado deve ser muito confortável, de modo a não castigar os pés. As botas devem ser impermeáveis para protegerem da humidade matinal, transpiráveis e resistentes, ao mesmo tempo que devem proteger o tornozelo. Hoje em dia podemos encontrar botas com membrana impermeável/transpirável (como o Gore‑Tex) também a preços acessíveis.

3. A carabina
Vamos caçar com carabina, pois é a arma que melhores condições dará para um tiro preciso a distância média/longa. Idealmente uma carabina de repetição ou monótiro. Claro que também podemos caçar de aproximação com uma carabina semiautomática ou express, mas como nos estamos a dedicar ao equipamento mais específico para este tipo de caça, vamos deixar de lado estas duas soluções. As carabinas monótiro destinam‑se a quem pretende viver a caça de uma forma diferente e nem todos os caçadores estarão preparados para a “pressão” de lidar com uma única bala na arma. Regra geral são armas precisas, práticas de transportar, muito leves e também muito dispendiosas. Será entre as carabinas de repetição de ferrolho (culatra clássica ou de ação retilínea) que vamos encontrar o maior número de opções para escolhermos uma boa arma para caçar de aproximação. Talvez o primeiro passo seja estipular o teto máximo para o valor de aquisição e algumas preferências pessoais: coronha em madeira, ou sintética; design mais clássico, ou desportivo… Depois deve ter em conta o peso e dimensões da arma. Uma carabina com as tão em voga coronhas desportivas (de aspeto tático) pode apresentar uma série de vantagens na carreira de tiro que se vão esvanecer numa caçada de aproximação, em que vai passar a maior parte do tempo a ser transportada e apenas alguns minutos (por vezes segundos!) no encare e a apontar. Ao contrário do que a maioria poderá pensar, a escolha do calibre não é assim tão complicada. A compra de uma carabina (e restante equipamento) obriga a um esforço financeiro, por isso é compreensível que a escolha assente também na versatilidade de utilização. Pelas condições naturais, a nossa fauna não é assim tão diversa e facilmente encontraremos um calibre que tanto vai bem para caçar um corço como um dos maiores veados que podemos encontrar no nosso território. Recomendamos como mínimo um 6,5 mm; p. ex., o veterano 6,5×55 ou o tão em moda 6,5 Creedmoor. Entre os calibres “médios”, o .270 Win., o .308 Win. ou o universal .30‑06. Ou até mesmo um Magnum, como o .270 WSM, o 7mm Rem. Mag., ou mesmo o .300 Win. Mag., embora seja algo exagerado para caçar um corço ou muflão, mas mais seguro para um grande veado atirado a maior distância. Estes são apenas alguns exemplos de calibres mais comuns, mas existem muitos mais de prestações idênticas “especialistas” neste tipo de caça. Os calibres “javalineiros” como o 8×57 JS, o 9,3×62 e o .338 Win. Mag., também farão o serviço, mas serão menos “especialistas” do que os outros a que fizemos referência. Julgamos que com estas recomendações a escolha ficará mais balizada. Ah! Não se esqueça de uma bandoleira, acessório indispensável numa jornada de caça de aproximação.
4. A posição
É muito importante praticar o tiro e conhecer a anatomia do animal que vai caçar. Um corço ou um muflão têm uma zona vital consideravelmente menor do que um veado. Por outro lado, o veado será mais resistente a um impacto mal colocado. Tome sempre em consideração a posição do animal (lateral, três quartos, etc.), que será determinante para que a bala atinja na sua trajetória os órgãos vitais. Na caça de aproximação o objetivo será disparar a um animal parado, idealmente que não deu pela nossa presença.
5. A ótica
O equipamento ótico é fundamental para o êxito na caça de aproximação. É absolutamente imprescindível contar com uns bons binóculos, os melhores que a nossa carteira permita. O mesmo para a mira telescópica. Os binóculos 7×42, ou 8×42, ou mesmo 10×42 são ideias para caçar de aproximação, têm um número de aumentos suficiente para encontrar e avaliar previamente o nosso objetivo a média distância, possuem um amplo campo de visão e luminosidade suficiente para observação durante o período crepuscular. Não será difícil escolher, depois de ter definido o seu orçamento. Poderá ainda optar por um modelo com telémetro integrado, embora sejam consideravelmente mais caros e mais pesados. A escolha da mira telescópica não será assim tão simples, pois a oferta não só é mais vasta como as características são bastante diversas. Tal como nos binóculos, também aqui se aplica a máxima de “comprar o melhor que o nosso orçamento permita”!. Atualmente estão na moda miras telescópicas com muitos aumentos; acreditem que não precisamos assim de tantos… 12x são suficientes, acima de 18x já se torna difícil controlar um disparo apoiado em varas. Mais importante é escolher uma mira com boa transmissão de luminosidade, pois os momentos mais “produtivos” na caça de aproximação são os períodos crepusculares. Por isso uma lente objetiva de 50 mm (não é preciso de 56 mm) não será um disparate. No entanto, uma boa mira 1,5‑6×42 nas mãos de um caçador calmo e com alguma experiência fará milagres.
6. As melhores horas
Do ponto anterior facilmente deduzimos quais os períodos de maior atividade das espécies de caça maior; o amanhecer e o entardecer. Serão estes os momentos que devemos privilegiar nos planos da nossa caçada. Portanto, o nascer do sol será passado no campo. Mas cuidado! Não é conveniente sair para caminhar ainda sem conseguir distinguir a paisagem a alguma distância, pois podemos afugentar o veado ou o corço que tanto procuramos. E se a manhã pode ser muito produtiva caminhando pelas zonas de querença, já a melhor estratégia para o entardecer será diferente, devemos ter paciência e aguardar pelo momento em que os animais saem dos seus refúgios, o que acontece habitualmente já com pouca luz.

7. Terrenos e querenças
O conhecimento do terreno é fundamental para caçar de aproximação, por isso quando não o tivermos devemos recorrer ao acompanhamento de um guia, que pode ser o guarda‑auxiliar da zona de caça ou até um amigo. Se temos o privilégio de poder caçar sozinhos na nossa zona de caça é conveniente fazer um reconhecimento prévio dos terrenos, encontrar os locais de pasto, ou por exemplo, as marcações que os cervídeos fazem com as hastes (em Março/Abril os corços, em Agosto/ Setembro os veados e gamos). Em determinados períodos do ano a presença de fêmeas pode significar a proximidade de um macho, noutros poderá ser possível encontrar grupos de machos. Cada um definirá a sua estratégia de caça em função do que pretende caçar e das condições do território.
8. A localização
Ao contrário do que muitos pensam, caçar de aproximação não implica estar constantemente a caminhar. As pausas para observação e localização dos animais devem ser frequentes. Com os binóculos vamos perscrutar o terreno a caçar, começando de curta para longa distância. Quantas vezes depois de visualizarmos os locais mais longe encontramos um corço quase tapado pela vegetação a pouco mais uma centena de metros da nossa posição? A paciência é sem dúvida a principal arma que caça por este processo.
9. A aproximação
Se encontramos o objetivo da nossa caçada a alguma distância, então entramos na fase mais entusiasmante do processo, a aproximação. Os animais de caça maior têm um poderoso olfato, muito desenvolvido, e uma visão excelente, sendo capazes de detetar a nossa presença apenas por encontrar algo diferente naquela que é a paisagem habitual do local. A direção do vento deve ser tomada em conta durante todo o período de caça, mas mais ainda nesta fase. Uma vez controlado esse aspeto há que estudar o melhor percurso para nos colocarmos a uma boa distância de tiro. A escolha desse itinerário deve ter em conta o ruído que vamos fazer, evitando passar por zonas de arvoredo com folhagem e ramos no solo, por exemplo. Conforme nos vamos aproximando temos sempre de ir avaliando a presença de outros animais, da mesma ou de outras espécies, que possam fugir e alertar aquele que é o nosso objetivo. Por vezes temos que rastejar para ganhar alguns metros que serão preciosos… Mais uma vez, a paciência será determinante no sucesso da caçada.

10. O tiro
Uma vez chegados a uma distância aceitável (e confortável) para o tiro, tentaremos encontrar um local estável para disparar. Podemos levar a vara de tiro, bipé na carabina ou utilizar um apoio natural; uma árvore ou uma rocha… Apenas devemos disparar com boas condições de tiro. É preferível não disparar se isso não acontecer. O retículo deve ser colocado na zona vital do animal e estabilizado, não basta “passar” nessa zona. O objetivo será sempre cobrar o animal com um único disparo. O controlo da respiração é essencial. Contemos o ar e vamos apertando suavemente o gatilho até que o disparo nos surpreenda. Uma vez realizado o disparo procederemos imediatamente à colocação de nova munição na câmara, enquanto se observa a reação do animal. Mesmo que nos pareça ter errado o disparo temos obrigação de encontrar o local do tiro e analisá‑lo, procurando minuciosamente vestígios de sangue. Caçar de aproximação deverá representar o maior desafio para o caçador, e como em qualquer processo de caça faça‑o com ética e respeito pelos animais caçados.