A forma como o Homem utiliza o meio tem influência direta nas espécies, sendo os obstáculos artificiais um fator determinante nas migrações de determinadas espécies.
O tamanho de uma população de uma espécie migradora diminui significativamente quando se reduz ou destrói a conetividade funcional das rotas migratórias. A perda de habitat dessas áreas aumenta o possível impacto negativo nos níveis de uma população (Iwamura et al., 2013). A migração produz-se com o objetivo dos gastos associados à distância percorrida serem compensados por um melhor acesso a recursos. Mas o comportamento migratório expõe a codorniz a uma ampla gama de ameaças antropogénicas (que resultam da atividade humana) crescentes com efeitos diretos na mortalidade (Buchan et al., 2021). Os resultados deste estudo mostram que poucas codornizes chegam realmente à Europa Central. Também se sabe que os fatores antropogénicos alteram os movimentos das aves aquáticas à medida que diminui a disponibilidade e a qualidade do habitat e os padrões de movimento nos locais de escala se veem igualmente afetados.
ALTERAÇÕES HUMANAS E RESPOSTA DAS ESPÉCIES MIGRATÓRIAS
Milhares de milhões de aves migram através dos continentes de noite por espaços aéreos cada vez mais alterados pela atividade humana, o que provoca milhares de mortes dessas aves por colisão com estruturas artificiais. Nos Estados Unidos da América estimou-se que 500 milhões de aves migram cada noite durante as horas de pico, e muitas chocam com aviões, edifícios e estruturas de energia eólica (Van Doren e Horton, 2018). Como resultado do aumento desse tipo de estruturas, as estratégias migratórias das aves devem responder às mudanças globais, tanto no clima como no uso do território, unidos à crescente urbanização que modifica os mecanismos que impulsionam a migração dessas aves (Bonnet- Lebrun et al., 2020). A luz artificial noturna e a cobertura do solo urbano têm impactos negativos nas aves migradoras noturnas, sendo por isso importante reduzir essa fonte luminosa nos períodos migratórios, como concluíram os investigadores Cabrera-Cruz et al., 2020; La Sorte e Horton, 2021. Para compensar os efeitos da urbanização, as aves migradoras noturnas voam mais alto sobre as zonas urbanas do que sobre as áreas rurais. Os investigadores descobriram que, nas rotas de migração das codornizes, a latitude e a presença de solo urbanizado podem ter efeitos significativos, o que confirma a noção de que o solo urbano representa uma barreira perigosa que obstrui a migração. Além disso, as espécies migradoras de primavera para norte, que viajam para latitudes mais altas, devem compensar a deriva do vento. Os ventos estacionais agravam as variações nas taxas e datas dos fluxos migratórios e podem ter efeitos letais quando as aves cruzam barreiras como mares ou cidades, especialmente se os exemplares que migram são aves juvenis inexperientes (Santos et al., 2020).
GRANDE AMEAÇA PARA A BIODIVERSIDADE GLOBAL
A perda de habitat pode isolar populações de aves migradoras. Os locais de escala são mais vulneráveis à perda de habitat e podem provocar o colapso da rede migratória. Em consequência, a gestão das aves migratórias deveria considerar as amplas flutuações nas suas abundâncias interanuais, assim como as implicações do aquecimento global e a gestão transfronteiriça. Os investigadores identificaram as rotas migratórias das codornizes e como estas são condicionadas pelas zonas de solo urbanizado. A crescente presença de solo urbano tem consequências na perda das rotas migratórias. Este problema não é fácil de reverter e atualmente representa a maior ameaça para a biodiversidade global. O crescimento económico tem custos ecológicos em termos de qualidade de vida, saúde pública, serviços ecossistémicos e de perda de biodiversidade. Devido aos espaços urbanos representarem ameaças potenciais à migração da vida silvestre e também ao aumento da probabilidade de fatores patogénicos, necessitamos de decisões políticas e de gestão que harmonizem adequadamente o desenvolvimento e a conservação ecológica, tendo em conta a vulnerabilidade da saúde e das interações dinâmicas entre a biodiversidade e os ecossistemas, serviços e crescimento da população humana.
EM RESUMO
Devido à urbanização, detetouse uma diminuição nas rotas de regresso da codorniz com latitudes crescentes e paisagens antropogénicas. De acordo com estes factos, a ecologia global necessita DE compreender melhor os efeitos do ambiente construído nas interações entre os humanos e vida selvagem.