Nos dias que correm, é cada vez mais frequente a falta de tempo que há para criar um cachorro, com tudo o que isso supõe; proporcionar‑lhe uma socialização correta, educá‑lo e iniciá‑lo na caça. E é por isto também que a tendência dos caçadores em escolherem cães já iniciados, ao invés de cachorros, tem vindo a crescer. Neste artigo, vou tentar ajudar‑vos a escolherem um cão da melhor forma possível.
Já falamos muitas vezes da socialização e da educação dos cachorros, mas… O que é que é isto da iniciação, ou melhor, de um cão já iniciado? Que aspetos devemos ter em conta quando queremos adquirir um cão já iniciado? Vamos começar por responder à primeira pergunta e explicar o que é um cão já iniciado. A maioria das pessoas está confusa, e pretende encontrar num cão iniciado um cão jovem a caçar. Não amigos, a única coisa que é idêntica é o facto de serem jovens. Um cão iniciado é aquele que já sai à procura e, caso encontre a peça de caça, pára, persegue a peça e não tem medo do tiro. Ponto! Eu disse que “caso encontre a peça de caça, pára”, de forma condicional, porque procurar, procurará, mas também vai correr atrás dos passarinhos, irá brincar se tiver outro cão no terreno, etc. E é porque se trata de um cão jovem, não de um cão já experiente, e por isso vai precisar de experiências para se tornar num cão de caça. Bem, de certeza que alguns de vocês já estão a pensar no cobro. Pois não, o cobro, tal e como se entende (correr, agarrar e entregar), não entra dentro destas características que definem um cão iniciado. Pode ser que cobre, pode ser que não. Isso já faz parte da educação e do treino que, juntamente com as experiências que lhe devemos proporcionar e, obviamente, pela genética, farão desse cão jovem um bom, aceitável ou mau cão de caça. O normal num cão iniciado aceitável é que tenha um bom instinto de cobro, ou seja, que corra e apanhe; o entregar a peça já está dentro da esfera do treino, e insisto nisto para que fique bem claro.

ASPETOS IMPORTANTES
Os cães têm diferentes tipos de inteligência: inteligência instintiva, graças à qual um cão de caça cumpre o trabalho para aquilo que foi selecionado; inteligência funcional ou capacidade de aprendizagem, também conhecida como treinabilidade; inteligência ambiental, pela qual os cães se adaptam a diferentes meios, pessoas e objetos, etc. Isto é o que diz a psicologia canina, mas não se preocupem que vou traduzir tudo isto e explicar‑vos o que é que isto tem a ver com um cão iniciado. Estes tipos de inteligência são aqueles em que nos devemos basear quando queremos adquirir um cão iniciado, ou seja, é muito importante que o exemplar em questão tenha bons instintos, que com poucas experiências comece a caçar, que não precise de espantar muito para parar, que apanhe a perdiz e não tenha medo de a agarrar… Tudo isto é inteligência instintiva. Que aprenda bem e sem muitas repetições, que não tenhamos que usar o colar de impulsos elétricos mais do que é necessário. Isto seria uma boa inteligência funcional. E que tenha uma boa adaptabilidade (inteligência ambiental) ou, pelo menos, aceitável, ou seja, que se consiga adaptar a novos meios, a novas pessoas, novos terrenos, o mais depressa possível e, muito importante, sem ter nenhum trauma. Quiçá este último aspeto a que chamamos capacidade de adaptação (adaptabilidade, inteligência ambiental), seja o mais importante quando um cão muda de dono e de terreno para caçar. Já vi exemplares que eram caçadores extraordinários no seu coto, com o seu dono, mas que passavam a medíocres noutros terrenos com o seu dono e, com outras pessoas, nem sequer saíam debaixo dos pés.
COMO É QUE POSSO SABER SE O CÃO SE VAI ADAPTAR BEM?
Quando adquirimos um exemplar já iniciado, a primeira coisa (e mais fundamental) a ver é “in situ”, ou seja, fisicamente, no canil, no seu meio, e no campo que conhece. É ridículo confiarem num vídeo, e muito mais é quando confiam somente em fotografias. Se não podem ir até ao sítio onde está o cão é melhor não adquirirem um cão iniciado, porque as suas qualidades têm de se ver fisicamente, pessoalmente. É muito difícil adivinhar se irá adaptar‑se bem, mas ao menos vamos ver como é que reage diante a presença de um estranho. Esqueçam os cães ariscos ou pouco sociáveis. E não se esqueçam disto que vos digo. Se depois de tudo isto estão convencidos e levam o cão para casa, devem ter em conta que um cão demora cerca de 15 dias (no máximo) a adaptar‑se. Se passado este tempo o seu comportamento é arisco, receoso e não se apresenta no terreno tal como o tinham visto quando o foram buscar, o melhor é devolverem‑no e não perderem mais tempo. Obviamente que durante este tempo devemos levá‑lo o máximo possível ao campo, proporcionar‑lhe experiências de caça e tentar não pressionar. E se fizermos isto tudo e o cão não responder como esperamos, o melhor é voltar para onde veio.
