A popularidade das esperas noturnas ao javali veio trazer ao caçador português um maior interesse pelas carabinas de caça. Se para a montaria o encare rápido e velocidade de repetição do tiro eram os fatores mais importantes, agora – e talvez de uma forma até exagerada – a precisão tomou conta das preocupações do neófito “esperista”. Isso nem é mau, no entanto a maioria esquece‑se da importância da primeira parte da lição; onde apontar!
O tiro à bala exige precisão. E precisão é diferente de apontar bem. Com uma espingarda carregada com munições de projéteis múltiplos (cartuchos com chumbos) também temos de apontar bem, mas o processo de disparo é completamente distinto. Mesmo quando disparamos com carabina a um alvo em movimento, se bem que o encarar bem e saber correr a mão contribuam para a maior parte do sucesso, as técnicas do tiro de precisão (a um alvo estático) também são importantes. Quem nunca deu uma “gatilhada” em montaria?
Técnicas de tiro apreendidas
Vamos partir do princípio de que todos os que leem estas linhas têm as técnicas de tiro de precisão apreendidas; distribuição da força muscular na arma, relaxamento, controlo da respiração, etc. E até a escolha do correto apoio de tiro, pois disparar a cerca de 100 metros sem a carabina apoiada será tudo menos um tiro de precisão. Muito bem! Sendo assim, vamos passar ao tema deste artigo.

Zona de morte
O disparo a uma peça de caça maior deve ser sempre dirigido a uma “zona de morte”, que varia conforme a espécie que caçamos. Alguns caçadores têm más experiências no seu primeiro safari africano precisamente por não conhecerem a anatomia dos animais que vão caçar e, frequentemente apontam a zonas que, nessa espécie, não é a “zona de morte”. O curioso é que muitos caçadores têm por vezes uma ideia um pouco errada da anatomia dos animais que conhecem (ou deveriam conhecer) perfeitamente. Frequentemente vejo experientes caçadores indicar numa rês o local do coração bem mais acima do que na realidade está. Isto porque o tiro à espádua é (ou era…) o mais praticado e como o coração é a “bomba” de qualquer animal, confunde‑se o tiro à “espádua” com o tiro ao coração. Na caça maior, além do ponto de impacto do projétil também é importante o tipo de projétil que utilizamos e, claro, o calibre do mesmo. Sim, já estou a ouvir que todas as balas matam… é verdade, mas as maiores (na velocidade certa) matam melhor. Mas vamos deixar isso de lado, para outras núpcias.
No javali
A área que podemos definir como zona de morte no javali não é muito grande e inclusive é bastante confusa de situar, pois com o corpo coberto de densas cerdas torna‑se difícil avaliar com detalhe a anatomia deste animal. Por sorte (e engenho), hoje temos à nossa disposição equipamentos óticos que permitem visualizar em detalhe e na escuridão as forma do porco selvagem. Assim tudo se torna mais fácil. E, como tal, até podemos escolher locais de impacto de letalidade imediata e de pequena dimensão, como o cérebro ou o primeiro quarto da coluna vertebral. Por isso mesmo, pela capacidade de observação e detalhe de imagem dados pelas modernas miras de visão noturna e térmica, está “na moda” apontar à “cabeça” ou “orelha”, procurando alcançar o cérebro. Se aí é ou não o local a visar, a “discussão” vai ficar para uma próxima (em breve) oportunidade. O objetivo agora é, através das imagens que encontra nestas páginas, ficar a perceber como pode ser difícil encontrar esse ponto letal, pouco maior do que uma mão fechada, que colocará o javali imediatamente por terra.
Técnica de tiro: correr a mão vertical e horizontal
Mesmo no tiro de precisão e quando temos apoios de tiro pouco estáveis ou disparamos a braço livre, podemos utilizar uma técnica de “correr a mão”; basicamente implica dar um certo movimento na linha de mira, onde se encontra o ponto de impacto visado. Vertical – pegamos o alvo desde baixo (junto à mão/pata dianteira do animal) e vamos subindo com uma velocidade constante centrando a nossa atenção no ponto de impacto, e sem interromper esse movimento vamos disparar no preciso momento em que a mira (retículo) passar por esse ponto. Horizontal – será a técnica mais aconselhada para o tiro em montaria ou batida; vamos pegar o javali pela traseira até colocarmos a mira (retículo) no que será a linha da coluna vertebral, e sem perder o foco na “zona de morte” – entre sensivelmente o meio do javali e o início da cabeça – disparamos sem parar de correr a mão. Este é o tiro mais letal em montaria.
