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A tecnologia ao serviço da caça ao javali

by Redação

Quando terminou a última Idade do Gelo, há cerca de 10.000-12.000 anos, e teve início o período temperado do Holoceno, deu-se uma importante evolução nas técnicas de caça do Homo sapiens; a invenção do arco. Até então a caça praticava-se com armadilhas e outros instrumentos mais rudimentares, como as lanças com pontas em pedra. Ao surgir o arco, ninguém terá pensado que essa invenção demoníaca poderia colocar em risco a fauna. Pelo contrário, a invenção permitiu diversificar as espécies presa e permitiu aos primitivos caçadores direcionar os esforços de caça a animais menores, podendo conseguir alimento sem arriscar as suas vidas com os grandes mamutes ou perigosos ursos. É possível que algum animalista vegano do início da humanidade tenha vaticinado que com essa invenção – o arco – se iria exterminar todas as espécies animais.

Texto: Redação

Fotos: Arquivo

Com a vulgarização do arcabuz como arma de caça no século XVII, a atividade venatória alterou-se de forma significativa, ao ponto de a prática da montaria ter mudado radicalmente para a forma como hoje a conhecemos, com os caçadores colocados e matilhas a bater a mancha para os postos. Não acreditamos que naqueles anos alguém tenha estado contra o uso da arma de fogo nessa prática venatória já com séculos de existência, no limite a algum purista da caça com arco ou besta lhe poderá ter parecido excessivo o uso de tal utensílio.

Munição metálica e miras telescópicas

Em finais do século XIX a pólvora sem fumo impôs-se sobre a pólvora negra e o aparecimento da munição metálica introduziu um novo salto tecnológico nas armas de fogo para a caça. Foi entre esse período e o século XX que surgiram muitos dos calibres que ainda hoje utilizamos e ninguém tentou a sua proibição. Nem sequer o tentaram com o aparecimento das primeiras miras telescópicas que se tinham começado a utilizar na Primeira Guerra Mundial e passaram imediatamente a fazer parte do equipamento de muitos caçadores. Na verdade, o seu uso foi considerado ético por permitir uma maior eficácia.

Novas tecnologias

Tudo isto vem a respeito das discussões que atualmente estão em debate no mundo da caça sobre o uso das novas tecnologias; que não é ético, que não se dá oportunidade à caça…. Vamos neste artigo abordar o uso dos novos equipamentos que o caçador tem à sua disposição para a prática da atividade venatória. Cabe a cada um dar-lhe o melhor uso, respeitando sempre os aspetos legais da sua utilização e, claro, cumprindo aquilo que serão os planos de cinegéticos feitos com rigor e assim participar na gestão efetiva das zonas de caça.

As câmaras ou “trail-cams”

A digitalização na fotografia e vídeo abriu-nos um mundo que permanecia oculto aos não profissionais. Com as câmaras de foto-armadilhagem ou “trail-cams” podemos conhecer os hábitos das espécies de caça e por onde se movimentam. A maioria utiliza este tipo de equipamento junto aos cevadouros para saber a que hora entra o javali a comer e também para conhecer em detalhes aspetos físicos da futura presa. Antes das câmaras já havia alguns dispositivos que permitiam saber, sem qualquer tipo de interatividade, a hora da frequência dos javalis ao comedouro; lembram-se dos dispositivos de relógio tipo “bolota”? Quando era derrubado o relógio parava e marcava a hora da visita. Faltava saber os detalhes físicos do “suspeito”, e aí entrava a arte do caçador, procurando identificar rastos no solo e marcas nas árvores e vegetação. Algo que dava um sabor especial a uma espera.

Hoje é muito mais simples. Basta visionar as fotos e podemos ver, além do dia e hora, praticamente todos os detalhes do visitante. E tudo isto pode ser em direto, graças à tecnologia 4G (e 5G) que nos permite acompanhar em tempo real tudo o que se passa nos nossos cevadouros. Podemos inclusive interagir com o equipamento, configurando-o remotamente.

Evidentemente, este tipo de equipamento utilizado de forma mal-intencionada permite abater os grandes navalheiros sem história. Contudo, serão também as “trail-cams” uma excelente ferramenta de gestão para conhecer melhor o que temos na nossa zona de caça e assim elaborar planos com menor margem de erro.

Torretas balísticas

O fascínio pelos tiros a longa distância está na ordem do dia. E se olharmos para a história, esse fascínio é antigo. Desde que se montaram as primeiras miras telescópicas nas armas de caça que se valoriza um lance concretizado com um tiro longo. As primeiras miras não eram mais do que um par de lentes com um retículo que permitia colocar melhor o tiro.

Não faz muito tempo as miras telescópicas convencionais incorporaram uma nova tecnologia; a torreta balística. Este complemento permitiu compensar de forma mais rápida (sem grandes cálculos) a trajetória balística do projétil em função da distância de tiro. Com a ajuda de um telémetro – outro equipamento tecnológico – deixa de ser necessário compensar “a olho” a queda da bala. Medimos a distância com o telémetro, colocamos a roda da torreta nessa distância e… disparamos apontando à zona vital da peça de caça. Há quem considere que um disparo a 400 metros não é caça. Mas também há quem considere uma total falta de ética um disparo a uma rês parada, que esteja a alimentar-se num cevadouro…

Monóculos e miras NV e térmicas

A visão noturna (NV) e térmica, tal como muitas outras tecnologias que utilizamos na caça, nasceram no âmbito militar. Têm princípios de funcionamento distinto: a tecnologia NV amplificam eletronicamente a luminosidade ambiente e aproveita espectros não visíveis ao olho humano convertendo-os para uma imagem visível; a tecnologia térmica deteta fontes de calor e permite detetar animais a longa distância, inclusive durante o dia.

Em ambos os casos melhoram a detenção das reses e facilitam a sua captura. Combinando um monóculo para deteção e observação, com uma mira, não há qualquer dúvida que a tarefa do caçador ficará substancialmente mais facilitada. Além disso, permite uma maior eficácia por saída de caça, o que poderá ser importante para cumprir planos de gestão ou acudir a situações de prejuízos na agricultura, por exemplo.

Conclusão

A tecnologia não é má. A tecnologia mal utilizada é nefasta. O debate é muito simples, devemos utilizar a tecnologia para caçar melhor e ajudar-nos a cumprir os planos de caça. Nem um exemplar a mais, nem um exemplar a menos. E sobretudo, moderação. Moderação no vício de matar e no “vale tudo” para obter aquele troféu. A caça de um bom troféu pode ser uma experiência de capacidade e superação pessoal.

Cada um elege até onde quer chegar com a tecnologia e, sobretudo, tem de cumprir com a legislação, o que está permitido e nunca mais do que isso.

Este é um artigo que pode encontrar na edição especial EXTRA JAVALI 2025.
Em banca!

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